A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou nesta segunda-feira (25) uma sessão solene intitulada “Brasil–Nigéria: Herança, Diálogo, Futuro”. O evento, promovido pelo presidente da Comissão de Educação e Cultura, deputado Gabriel Magno (PT), apresentou a proposta de criar um Fórum de Cooperação Intercultural entre Brasil e Nigéria, além de um projeto de lei para incluir obrigatoriamente nos currículos das escolas públicas do Distrito Federal conteúdos sobre a história da Nigéria, os povos iorubás, haussás e fulanis, assim como a contribuição africana na formação da sociedade brasileira.
A solenidade contou com a presença de autoridades brasileiras e nigerianas, representantes internacionais, parlamentares, intelectuais, artistas e líderes da comunidade afrodescendente, que discutiram os laços históricos entre Brasil e Nigéria, países interligados pelo tráfico transatlântico de escravos e pela resistência cultural.
A sessão aconteceu logo após o Dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição (23 de agosto), data instituída pela ONU e lembrada por Gabriel Magno. Ele destacou que lembrar esse passado é uma obrigação ética e histórica, assim como uma forma de reconectar os povos. Milhões de africanos foram retirados de suas terras, culturas e famílias à força e contribuíram, sob violência, para a formação das Américas, especialmente do Brasil.
“Este ato é um passo importante para a reparação e o fortalecimento da relação entre nossos povos”, completou o parlamentar.
O evento também contou com a participação do professor Wole Soyinka, dramaturgo, poeta e ativista nigeriano, o primeiro africano a receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1986. Em sua fala, Soyinka falou sobre a diáspora africana como um processo de desumanização com impactos duradouros. Segundo ele, o Brasil é um país irmão e um reflexo da Nigéria; a cultura nigeriana está presente na música, na dança, nas crenças do candomblé e no idioma iorubá falado em orações. Ele ressaltou a importância de manter viva essa memória, incentivando que universidades ensinem essa história, governos implementem políticas de reparação e artistas continuem fortalecendo essa conexão entre os dois países.
Em nome do governo nigeriano, o presidente do Banco Central, Carlos Cardoso, ressaltou a necessidade de relações econômicas mais justas entre os países do Sul Global. Ele destacou que, apesar da exploração histórica da África, o Brasil também precisa repensar seu papel globalmente. Propôs um novo modelo baseado em comércio justo, investimentos em tecnologia africana, cooperação acadêmica e apoio a iniciativas lideradas por mulheres negras.
Carlos Cardoso mencionou o interesse da Nigéria em firmar acordos com instituições brasileiras como Finep e BNDES para desenvolver projetos nas áreas de energias renováveis e agricultura sustentável.
Já a deputada federal Érika Kokay (PT-DF) ressaltou que honrar a Nigéria representa também reconhecer e combater o racismo estrutural enfrentado por africanos e afrodescendentes no Brasil, o que exige mais do que palavras, mas ações concretas como políticas públicas, cotas, investimentos em comunidades carentes e justiça reparatória.
Além das discussões, deputado Gabriel Magno oficializou o projeto de lei que prevê a inclusão obrigatória do ensino da história da Nigéria e da influência africana na formação do povo brasileiro nas escolas públicas do Distrito Federal. Ele destacou que a educação é fundamental para a transformação social e para que os jovens reconheçam a importância da cultura negra e da Nigéria como pátria ancestral.
Também foi proposta a criação do Fórum Brasil-Nigéria de Cooperação Intercultural, que reunirá universidades, movimentos sociais e o setor produtivo para promover intercâmbios acadêmicos, culturais e tecnológicos.
O evento teve apresentações culturais, incluindo um coro de crianças cantando em iorubá e português, além da entrega simbólica de um painel artístico criado por artistas da periferia de Ceilândia às autoridades nigerianas.
Ao final, a sessão foi um chamado para reconhecer a herança comum entre Brasil e Nigéria, marcada por dificuldades e resistência, promovendo respeito, reconhecimento e compromisso mútuo.