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quinta-feira, 04/09/2025

Cirurgia robótica tem recuperação rápida e menos traumas

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LAIZ MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A cirurgia robótica, que utiliza cortes pequenos, traz menos dor e permite que o paciente receba alta do hospital mais cedo. Ela tem ganhado espaço nos hospitais privados do Brasil, sendo uma evolução da laparoscopia. No entanto, ainda é pouco comum no SUS (Sistema Único de Saúde), presente apenas em alguns centros com infraestrutura adequada.

A Strattner, empresa que introduziu a cirurgia robótica no Brasil em 2008 e líder no mercado com os robôs Da Vinci, informou ter vendido 161 sistemas no país, dos quais 120 estão em hospitais privados e 41 em instituições que atendem tanto o público quanto o privado. A média anual é de 295 procedimentos feitos por robô no Brasil.

Em recente aprovação para o SUS, a prostatectomia robótica, cirurgia para remover a próstata em casos de câncer, é um primeiro passo para expandir essa técnica na rede pública. A lei determina que o SUS deve oferecer esse procedimento em até 180 dias.

Não existem dados oficiais quanto ao uso dos diferentes tipos de cirurgia no SUS. O Ministério da Saúde relata que as unidades do INCA (Instituto Nacional de Câncer) são referência, realizando mais de 500 cirurgias robóticas desde 2012.

A remoção da próstata por câncer é a cirurgia robótica mais frequente, segundo Carlos Eduardo Domene, secretário-geral da Sobracil (Sociedade Brasileira de Videocirurgia, Robótica e Digital) e professor da USP. Essa técnica ajuda a manter as funções urinárias e sexuais. Além disso, é usada em procedimentos para câncer colorretal, endometriose e cirurgias na parede abdominal.

Domene explica que a cirurgia robótica não é feita por um robô sozinho. O sistema funciona como uma extensão das mãos do cirurgião, que controla tudo a partir de um console. Os braços mecânicos e a câmera que aumenta a imagem em até 20 vezes permitem o acesso aos órgãos por pequenos cortes, enquanto o médico opera no console, separado do paciente. Na laparoscopia, o cirurgião manipula diretamente os instrumentos, sem o auxílio do console robótico.

Mesmo com cortes pequenos, é possível remover órgãos e tumores. Por exemplo, em cirurgias bariátricas, parte do estômago é remodelada para permanecer no corpo, e em histerectomias, o útero pode ser retirado pelo canal vaginal.

A principal diferença entre os tipos de cirurgia é que a cirurgia aberta, com cortes grandes, causa mais trauma e recuperação mais lenta, enquanto a cirurgia robótica oferece mais precisão, melhor visualização e controle dos movimentos, combinando os benefícios da laparoscopia.

Domene destaca que a cirurgia robótica permite até realizar operações à distância. Em junho, um paciente em Angola foi operado por um médico nos Estados Unidos, sendo a primeira cirurgia feita a uma distância tão grande. O paciente recebeu alta três dias depois.

Ricardo Almeida, cirurgião gastrointestinal e oncológico do Hospital Santa Paula, salienta que a cirurgia robótica oferece visão tridimensional ampliada, possibilitando separar órgãos e tecidos com mais precisão e avaliar melhor o fluxo sanguíneo para os tecidos.

Ele cita, como exemplo, tumores no pâncreas, próximos ao fígado, estômago, intestino e canais biliares. Nesses casos, além de remover o tumor, é preciso retirar áreas ao redor e reconstruir estruturas para preservar funções. A tecnologia robótica ajuda o paciente a manter suas funções digestivas, facilita tratamentos complementares como quimioterapia e melhora a taxa de sobrevida e controle do câncer.

Um estudo na revista Annals of Surgery de 2021 comparou a cirurgia robótica com a aberta para câncer de pâncreas, mostrando que a técnica robótica reduziu necessidade de transfusão (12,4% contra 39,6%), infecção de ferida (12,4% contra 32,3%) e tempo de internação (7 dias contra 9 dias).

Elizabeth Pereira, comerciante de 64 anos, enfrentou câncer duas vezes nos últimos seis anos. Em 2019, foi diagnosticada com tumor avançado no intestino e passou por cirurgia aberta, que foi longa, dolorosa e com recuperação difícil, incluindo fraqueza e necessidade de cuidador.

Seis anos depois, ela recebeu novo diagnóstico de tumor no pâncreas em estágio inicial. Nessa cirurgia, feita em julho com técnica robótica, o procedimento durou cerca de seis horas, não precisou de transfusão e a recuperação foi muito melhor.

Elizabeth relata: “Eu recebi alta mais rápido com a cirurgia robótica. Não senti dor após a operação. Na primeira vez, senti muita dor e não conseguia me mover por causa do corte grande”.

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