Pesquisadores do Brasil, Costa Rica e Europa conseguiram isolar e cultivar em laboratório um vírus do gênero Morbillivirus, parente próximo do sarampo, encontrado em morcegos da América Latina.
Este avanço, de isolar o vírus in vitro, permite analisar com detalhamento a estrutura, a genética e os mecanismos de infecção desses patógenos, que têm uma estrutura semelhante à da cinomose canina.
Esta descoberta abre possibilidades para o desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico, medicamentos e vacinas, caso a doença se torne transmissível para humanos. É um passo importante para expandir o conhecimento sobre vírus selvagens.
Os dados são resultado de 14 anos de coleta e análise de mais de 1,6 mil morcegos no Brasil e na Costa Rica, abrangendo espécies hematófagas, frugívoras e insetívoras. Os resultados foram publicados em junho na revista Nature Microbiology.
Embora existissem indícios genéticos anteriores da presença do Morbillivirus em morcegos, até então não havia sido possível isolar diretamente o vírus, o que dificultava o estudo sobre sua biologia e seu potencial de infectar outras espécies.
Testes indicam que o Morbillivirus não infecta facilmente células humanas, restringindo a doença aos morcegos por enquanto.
A equipe sequenciou o material genético completo de diferentes linhagens virais e identificou como o vírus interage com as células hospedeiras. Altas concentrações virais foram encontradas nos rins, pulmões, fígado, intestino e coração dos morcegos, sugerindo infecções sistêmicas não letais, semelhantes às do sarampo em humanos.
Luiz Gustavo Góes, biólogo do Instituto Pasteur de São Paulo, explicou à Agência Fapesp: “Por meio do isolamento de células, observamos que esse vírus não consegue utilizar o receptor CD150 humano, o que é uma informação muito positiva, pois indica que, no momento, ele não tem capacidade de infectar seres humanos.” O Instituto Pasteur é uma organização sem fins lucrativos ligada à Universidade de São Paulo (USP).
No entanto, os pesquisadores destacam a importância da vigilância contínua para evitar riscos futuros, pois, como qualquer vírus, há possibilidade de adaptação.
Além disso, foram identificados vírus similares em macacos silvestres mortos no Brasil, e análises genéticas sugerem que esses vírus possam ter origem em morcegos, apontando para a possibilidade de transmissão entre espécies.
Esse estudo representa um avanço significativo na compreensão dos vírus em animais selvagens e reforça a necessidade de monitoramento constante para prevenir possíveis ameaças à saúde pública.