Os cientistas conseguiram gerar novas células-tronco em um rato vivo, e dizem que isso abre a perspectiva de regenerar tecidos danificados em pessoas com problemas tão díspares quanto insuficiência cardíaca ou lesões da coluna vertebral.
Os pesquisadores usaram a mesma “receita” que é geralmente aplicada na produção de células-tronco em placas de Petri, mas em vez disso implantaram as células em ratos vivos. Eles concluíram então que foram capazes de criar as chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (células iPS) reprogramadas.
“Isso abre novas possibilidades na medicina regenerativa”, disse Manuel Serrano, que comandou o estudo no Centro Nacional de Pesquisa do Câncer da Espanha, em Madri.
Especialistas não envolvidos no trabalho disseram que o feito científico foi notável, mas observaram que a técnica, em seu estágio atual, não poderia ser aplicada em humanos, porque as células reprogramadas também causam a formação de tumores nos ratos.
“Claramente ninguém deseja fazer isso para propósitos terapêuticos, porque isso leva à formação de tumores chamados teratomas”, disse Ilaria Bellantuono, conferencista de células-tronco e envelhecimento esquelético na Universidade de Sheffield, na Grã-Bretanha.
Mas ela acrescentou que o trabalho de Serrano é uma “prova de conceito” que permite investigar formas de reprogramar parcialmente células no organismo até determinado estágio.
“Em princípio, essas células parcialmente desdiferenciadas poderiam ser então induzidas a se diferenciarem para o tipo de célula escolhido, induzindo à regeneração in vivo sem a necessidade de transplante”, afirmou ela.
As células-tronco são uma espécie de “manual de instruções” do organismo, capazes de dar origem a qualquer órgão ou tecido. Há dois tipos principais de células-tronco: as embrionárias, colhidas de embriões, e as iPS, obtidas em adultos a partir de células cutâneas ou sanguíneas, e reprogramadas para voltarem à condição de células-tronco.
Serrano, que falou a jornalistas antes da publicação do estudo na revista Nature, na quarta-feira, disse que uma das conclusões mais notáveis do estudo foi que as células iPS geradas nos ratos vivos se parecem mais com as células-tronco embrionárias do que as células iPS criadas em laboratório.
Especificamente, segundo ele, as células reprogramadas em ratos vivos demonstraram potencial de se diferenciar em mais tipos celulares do que as células iPS ou as células embrionárias, o que sugere que a reprogramação de células em mamíferos vivos produz células maior potencial, por serem mais “maleáveis”.