Os comentários de Biden vão na contramão da antiga política americana de “ambiguidade estratégica”, com a qual Washington ajudava Taiwan a construir suas defesas
A China pediu nesta sexta-feira (22) ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que aja com “prudência”, após suas declarações sobre a defesa militar de Taiwan, em caso de invasão por Pequim.
Questionado na quinta-feira (21) sobre a possibilidade de uma intervenção militar americana para socorrer Taiwan, Biden respondeu de maneira afirmativa.
“Sim. Estamos comprometidos com isso”, declarou o presidente democrata ao canal CNN, durante um encontro com seus eleitores em Baltimore.
Os comentários de Biden vão na contramão da antiga política americana de “ambiguidade estratégica”, com a qual Washington ajudava Taiwan a construir suas defesas, mas sem se comprometer a sair em apoio da ilha.
Taiwan tem um sistema político democrático.
Desde 1945, este pequeno território insular é governado por um regime que se instalou após a vitória dos comunistas na China continental em 1949, na esteira da guerra civil no país asiático.
A “República Popular da China”, que tem Pequim como capital e é governada pelo Partido Comunista, considera a ilha uma pequena parte de seu território.
As autoridades chinesas ameaçam usar a força, caso Taipé declare formalmente sua independência.
“Sinais equivocados”
Ao comentar as declarações de Biden, o governo de Pequim pediu ao presidente americano que “não interfira em seus assuntos internos”.
“Sobre as questões relacionadas com seus interesses fundamentais, como soberania e integridade territorial, a China não tem espaço para compromissos”, afirmou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Wang Wenbin.
“Pedimos à parte americana (…) para atuar com prudência sobre o tema de Taiwan e se abster de enviar sinais equivocados aos ativistas separatistas taiwaneses para não prejudicar gravemente as relações China-EUA”, completou o porta-voz.
Biden fez uma promessa semelhante em agosto, quando declarou que os Estados Unidos assumiram o “compromisso sagrado” de defender os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Canadá e na Europa, e “o mesmo vale para Japão, Coreia do Sul e Taiwan”.
Após as afirmações de quinta-feira do presidente americano, a Casa Branca disse à imprensa que a política a respeito de Taiwan “não mudou”.
“Suspeito de que Biden não pretendia anunciar nenhuma mudança”, declarou à AFP Richard McGregor, pesquisador do instituto australiano Lowy.
“Ou não se importava com o que estava dizendo ou, talvez, estivesse decidido a adotar deliberadamente um tom mais duro, devido a como Pequim intensificou o assédio militar a Taiwan nos últimos tempos”, completou.
Incursões
Ao ser questionado sobre se os Estados Unidos também poderiam enfrentar o desenvolvimento de programas militares na China, Biden também respondeu de maneira afirmativa.
“China, Rússia e o resto do mundo sabem que temos a capacidade militar mais poderosa do mundo”, disse o presidente americano.
Ao mesmo tempo, Biden reiterou o desejo de não participar de uma nova Guerra Fria com a China.
Pequim e Washington divergem em muitos temas, mas a questão de Taiwan é considerada, com frequência, como o único problema que provavelmente provocaria um confronto armado.
O próximo embaixador na capital chinesa, Nicholas Burns, destacou na quarta-feira que não é conveniente confiar na China na questão de Taiwan. Nesse sentido, recomendou vender mais armas para esta pequena ilha, de modo a fortalecer sua defesa.
O diplomata, que falou na Comissão de Relações Exteriores do Senado – que deve confirmar sua nomeação -, também denunciou as recentes incursões de aviões chineses na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ), as quais chamou de “repreensíveis”.