ANDRÉ BORGES
FOLHAPRESS
A relação comercial entre Brasil e China está se fortalecendo, especialmente no uso do etanol brasileiro para produzir combustível sustentável para aviões (SAF) na China.
Representantes do governo brasileiro, da China Petroleum and Chemical Industry Federation (CPCIF) e da Chimbusco, uma empresa ligada à PetroChina, discutiram essa parceria que tem grande potencial econômico e coloca o etanol como peça chave na mudança para energia mais limpa na China.
A China quer que 3% dos combustíveis usados em voos sejam SAF em cinco anos, e esse número suba para 50% até 2030, o que seria cerca de 46 milhões de toneladas desse combustível por ano.
O Brasil pode ter um papel importante nisso, pois a China tem pouco espaço para cultivar matérias-primas para combustíveis e produz pouco etanol localmente.
Dentre os quatro métodos analisados pela China para produzir SAF (óleo reciclado, combustível sintético, hidrocarbonetos e etanol), a cana-de-açúcar brasileira é vista como a melhor opção para a cooperação, pela escala e competitividade.
No último dia 12, o líder chinês Xi Jinping afirmou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a China quer trabalhar junto com o Brasil para fortalecer a cooperação e autossuficiência entre países do Sul Global, abordando temas como Brics e oportunidades de negócios.
Além disso, Xi Jinping disse que a China apoia o Brasil na defesa de sua soberania e na proteção de seus interesses, e pediu união contra o unilateralismo e o protecionismo global.
A CPCIF informou que está perto de finalizar um protocolo técnico para padronizar o SAF, o que facilitará o uso do etanol brasileiro segundo essas regras.
O Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil acompanha o tema e esteve na China em missão recente.
O estreitamento dos acordos comerciais incluirá um memorando que o Brasil deve assinar com o Conselho Chinês para Promoção do Comércio Internacional (CCPIT) na COP30, em Belém, visando cooperação para comércio sustentável envolvendo o SAF.
Também há conversas sobre financiamento para produção, com a criação possível de fundos verdes bilaterais e uso de recursos do grupo Brics (Brasil, Rússia, China e África do Sul).
O fundo China-Celac pode apoiar projetos para recuperar pastagens no Brasil, aumentando a produção de matérias-primas para biocombustíveis, com juros baixos e soluções para evitar custos cambiais elevados.
Xi Jinping comentou que as relações entre Brasil e China estão no melhor momento histórico, com projetos conjuntos e estratégias de desenvolvimento alinhadas, destacando a cooperação em iniciativas como Cinturão e Rota e o Novo PAC.
Ele reforçou ainda o compromisso chinês em trabalhar com o Brasil para aproveitar oportunidades e alcançar melhores resultados na cooperação.
Ter mecanismos financeiros e protocolos técnicos bilaterais pode proteger ambos os países de regras impostas por terceiros, como os Estados Unidos, que abriram investigação comercial sobre o etanol brasileiro por conta das tarifas aplicadas.
Enquanto antes os EUA cobravam 2,5% sobre o etanol importado do Brasil e o Brasil cobrava 18% sobre o etanol americano, a tarifa brasileira subiu agora para 52,5%.
Além do etanol, Brasil e China estão desenvolvendo um protocolo para certificar e rastrear produtos agropecuários, focando na exportação de carne e soja.
Esse protocolo alinharia métodos para medir emissões, uso da terra, manejo ambiental e bem-estar animal, permitindo que certificados brasileiros, como os criados pela Embrapa (Carne Carbono Neutro e Carne Baixo Carbono), sejam aceitos pela China como prova de sustentabilidade.