Quase um mês após o deslizamento de uma grande quantidade de lixo no Aterro Ouro Verde, em Padre Bernardo (GO), na região do Entorno do Distrito Federal, as consequências ambientais ainda são difíceis de mensurar. Em conversa com o Metrópoles, o chefe da Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio Descoberto pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fábio Miranda, fez uma comparação entre o ocorrido e o acidente com o Césio-137.
“Ficamos realmente sem saber qual dos dois desastres causou mais danos ao meio ambiente: o Césio-137 ou a tragédia em Ouro Verde. O impacto na contaminação do solo, do lençol freático e das raízes das plantas é muito grave”, explicou Fábio.
Fábio Miranda destacou que a reversão dos danos ambientais provocados pelo desastre pode levar várias décadas. “Do ponto de vista ecológico, essa contaminação deve persistir por muitas décadas ainda. O solo está poluído com diversos agentes tóxicos, e nem sempre é fácil identificar todos eles”, afirmou, adicionando que a presença de mercúrio foi detectada no solo.
O deslizamento no Aterro Ouro Verde ocorreu em 18 de junho, e o local vinha enfrentando diversas ações judiciais, incluindo uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Goiás (MPGO) e Ministério Público Federal (MPF) por dano ambiental. A empresa responsável pelo aterro foi multada em 37 milhões de reais, além de ter 10 milhões bloqueados judicialmente para garantir recursos destinados à mitigação dos danos causados.
Localizado em área de preservação ambiental da APA do Rio Descoberto, o aterro funcionava sem licenciamento ambiental apropriado, segundo o MP. Com o colapso do lixão, as águas do Rio do Sal e do Córrego Santa Bárbara foram contaminadas, e seu uso está proibido por tempo indeterminado. Quatro bacias de chorume apresentam risco iminente de novos desmoronamentos.
Fábio Miranda e sua equipe, junto com órgãos governamentais, realizaram várias inspeções no local e relataram uma falta total de controle sobre os tipos de resíduos recebidos, incluindo lixo hospitalar. “O aterro funcionava de modo precário, aceitando qualquer tipo de material. Chegamos a andar sobre seringas descartadas”, revelou Fábio.
Desde o desabamento, medidas emergenciais vêm sendo adotadas, como a transposição da água do córrego Santa Bárbara para evitar a contaminação por resíduos. Aproximadamente 40 mil toneladas de detritos acumulados, incluindo lixo hospitalar, representam uma ameaça constante, especialmente com a presença de água que pode transportar os resíduos até a Usina Hidrelétrica Serra da Mesa.
Além de proteger o meio ambiente, essas ações visam também garantir a segurança dos moradores locais, que dependem da água do córrego para consumo, irrigação e cultivo.