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quinta-feira, 09/10/2025

Chefe do esquema ilegal de IPTV no Distrito Federal ganhava mais que muitos servidores públicos

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Policiais civis da Divisão de Análise de Crimes Virtuais (DCV), da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor e Fraudes (Corf), prenderam nesta quarta-feira (8/10), em Samambaia, pai e filho suspeitos de operar um esquema clandestino lucrativo de IPTV (Internet Protocol Television). A investigação mostrou que, enquanto afirmavam ter rendimentos modestos, a dupla movimentava valores bem superiores à média de muitos servidores públicos do Brasil.

O líder do esquema, conhecido como “gatonet”, declarou à polícia que ganhava em torno de R$ 2 mil por mês. Contudo, os cálculos da polícia indicam outra realidade: com cerca de 160 clientes pagando ao menos R$ 35, a receita mensal ultrapassava R$ 5,6 mil, valor que supera o dobro do salário inicial de várias carreiras no serviço público.

Esse rendimento equivale ao de servidores concursados em cargos técnicos de nível superior. Para as autoridades, a disparidade nos números sugere uma tentativa de ocultar o faturamento real, evidenciando a natureza clandestina do negócio.

Segundo a polícia, o responsável pelo esquema principal, nome comercial “RegisTV”, confirmou ser o criador e administrador do domínio eletrônico www.registv.com.br, hospedado em servidor estrangeiro e usado para vender pacotes ilegais de TV via internet. O site foi retirado do ar após a operação policial.

As investigações mostram que o chefe começou a atuar em meados de 2023 após adquirir, em fóruns e grupos especializados, chamados de “painéis de revenda”, listas IPTV conhecidas como listas M3U no mercado paralelo.

Inicialmente revendedor de TV por assinatura legal, ele passou a vender os pacotes diretamente ao público, construindo uma carteira de 160 assinantes ativos no último semestre. O serviço oferecia canais de TV aberta e fechada, filmes, séries e pay-per-view, por preços entre R$ 17 e R$ 35. Os pagamentos eram feitos via Pix e transferências para contas no nome dele e de seu filho, que também participava do esquema.

O segundo envolvido, ex-militar da Força Aérea Brasileira com 26 anos, atuou por seis anos como cabo e depois ajudou no negócio gerenciando uma carteira menor de clientes, com cerca de 30 assinantes ativos. Seus planos variavam de R$ 30 a R$ 35 mensais, com opções anuais a R$ 200. A “RegisTV” usava canais diversos para divulgação: WhatsApp, Telegram, redes sociais e o próprio site, com atendimento remoto feito por pai e filho.

Todo o dinheiro entrou em contas pessoais e era usado para gastos familiares e manutenção tecnológica, como servidores, hospedagem e domínio. O negócio nunca foi formalizado: não houve abertura de empresa nem CNPJ. O líder admitiu que, mesmo sabendo da ilegalidade, manteve a atividade por “conveniência econômica”, já que tinha perdido o emprego formal como supervisor de vendas de internet.

A investigação começou após denúncias sobre a oferta clandestina de canais pagos. Durante as diligências, a polícia identificou os responsáveis, recolheu provas digitais e rastreou domínios e pagamentos.

Pai e filho foram presos em flagrante, autuados conforme o Artigo 183 da Lei Geral de Telecomunicações (Lei nº 9.472/1997), que prevê pena de dois a quatro anos de prisão e multa. Também respondem por violação de direitos autorais e exploração clandestina de serviços de telecomunicações.

O caso da “RegisTV” demonstra como o gatonet virou uma indústria paralela, movimentando quantias expressivas sem recolhimento de impostos, prejudicando empresas de mídia e os cofres públicos. O ponto mais simbólico para os investigadores é que, enquanto muitos servidores públicos ganham salários médios entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, o chefe do negócio ilegal conseguia superar esses valores com uma operação clandestina dentro de casa.

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