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quinta-feira, 21/11/2024
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Chef Vicky Lau, de Hong Kong, leva o feminismo às cozinhas

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Na arena altamente competitiva de Hong Kong, poucos tiveram uma ascensão tão fulgurante como Lau

(crédito: ANTHONY WALLACE / AFP)

Apesar do status conferido por suas duas estrelas Michelin, a chef de Hong Kong Vicky Lau diz que a batalha para alcançar a paridade de gênero no mundo da gastronomia profissional, dominado por homens, está longe de ser vencida. Mas algumas pequenas vitórias lhe dão esperança.

Na arena altamente competitiva de Hong Kong, poucos tiveram uma ascensão tão fulgurante como Lau, que, em pouco mais de uma década, passou de um pequeno café para administrar um dos restaurantes mais famosos da cidade.

Meses atrás, o Tate Dining Room foi premiado com duas estrelas Michelin, um marco para as chefs asiáticas, muitas vezes menosprezadas. E, embora muitos chefs digam em entrevistas que os prêmios não significam muito, Lau, de 40 anos, é mais direta.

“Não entrei na indústria porque queria esses reconhecimentos, mas com o tempo, eles se tornaram um objetivo”, disse em entrevista à AFP.

Questionada sobre a importância da duas estrelas Michelin para as mulheres, ela respondeu: “Acho que diz algo, porque incentiva muitas pessoas em nossa indústria a continuarem”.

Lau, uma ex-designer gráfica que mudou de carreira, conta que, ao entrar na profissão, não pensou “muito na questão de ser mulher e chef”.

Ela recorda que muitos de seus colegas eram mulheres quando estudou na academia Cordon Bleu de Bangcoc.

Uma vez dentro do ramo, viu como os homens dominavam tudo, principalmente quando se tratava de subir em uma empresa, ou ter um negócio.

Quando começou a chamar a atenção com seus pratos, cansou-se de ser questionada sobre seu gênero, sobre o exemplo que estava dando e o modelo em que se tornara.

Mas, com o tempo, começou a aceitar a realidade de que seu sucesso poderia servir para motivar outras pessoas. “Na verdade, tornou-se uma das minhas motivações para ir trabalhar”, explica.

Personalidades diferentes

Lau faz parte de uma nova geração de mulheres chefs de Hong Kong, ao lado de Peggy Chan e May Chow, que se tornaram modelos de empresárias de sucesso.

Tradicionalmente, os prêmios internacionais se concentram na culinária ocidental e em chefs do sexo masculino. Mas, aos poucos, as listas começam a refletir um pouco mais a realidade do mundo.

O movimento “Me Too” trouxe à tona o comportamento masculino que era elogiado por críticos de gastronomia e programas de televisão. Mas o progresso pode parecer desesperadamente lento.

“A indústria gastronômica é dominada por homens, como todos sabem, mas também espera que as mulheres se comportem como homens”, reclamou Peggy Chan, uma das primeiras chefs de alta cozinha vegetariana de Hong Kong.

O lento crescimento das mulheres, disse Chan, está começando a ter um impacto. “Agora há muito mais espaço para diferentes tipos de personalidades”, assegura.

Lau diz que sua cozinha é mais de 50% feminina, e as chefs com filhos são vistas como algo positivo, não uma dor de cabeça. “Aqui não celebramos o estilo de gritar de Gordon Ramsey”, garante Lau.

Técnicas chinesas

Os pratos de Lau combinam a gastronomia francesa e chinesa e são extremamente bonitos, cada apresentação refletindo seu passado como designer.

E ela está determinada a dar maior reconhecimento às técnicas culinárias chinesas, muita vezes desvalorizadas.

Como exemplo, cita os caldos “superiores”, que passam horas no fogo e são uma marca registrada da culinária chinesa.

Seu negócio se manteve durante a pandemia do coronavírus, graças ao serviço de bufê, venda de comida para viagem e uma confeitaria.

Ela também abriu pela primeira vez para o almoço, oferecendo um menu de degustação de baixo custo. “Fizemos arroz, tofu, chá, molho de soja”, detalha a chef. Cada prato de seu último menu é feito com as diferentes partes de uma planta: sementes, folhas, bulbos, caules, frutas, raízes e flores.

Lau diz que a pandemia a empurrou para um espaço mais criativo e pensativo. “Acho que a covid vai colocar a globalização em pausa”, prevê, afirmando que os restaurantes de alta gastronomia são obrigados a usar mais ingredientes locais.

Para ela, a alta gastronomia é uma forma de “se expressar no prato”, e “muitas vezes dá para se perder um pouco”. “Por isso, é hora de fazer com que a estrela do prato sejam ingredientes mais humildes, como o molho de soja, ou o arroz”, acredita.

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