País tem, em média, 2,79 moradores por domicílio. Em 1980, eram 4,51
Na família da professora universitária Lívia Maria Santiago, de 43 anos, os lares têm ficado cada vez menos numerosos a cada geração. Ela tem 12 tios no seu núcleo familiar. Caçula de dois irmãos, um com 52 e a uma de 48 anos, tem ainda dois sobrinhos. Apenas sua irmã teve filhos. Seu irmão, casado há mais de 20 anos, optou por não seguir o caminho da paternidade. Mesma decisão de Lívia. Mesmo com a carreira já consolidada, ela tem certeza de que não quer ser mãe.
As gerações da família de Lívia ilustram o fenômeno do encolhimento dos lares brasileiros. Pela primeira vez, o país tem menos de 3 moradores por domicílio, revelou nesta quarta-feira o Censo Demográfico 2022, divulgado pelo IBGE.
A família brasileira tem em média, hoje, 2,79 membros. Em 2010, quando foi realizado o último Censo, eram 3,31. Trata-se da menor média registrada desde o Censo de 1980, para quando há dados disponíveis.
Carreira é prioridade
“Hoje é uma escolha consciente (não ter filhos). Minha carreira sempre esteve no topo da lista”, afirma Lívia, que mora em um apartamento na Zona Norte do Rio, com a companhia do seu cachorro, Noel Rosa, e da gata recém-adotada, Vovó Juju.
A soteropolitana Aline Ventura, de 34 anos, é uma das pessoas que também contribuiu para a queda da média de moradores por residência no país. Há cinco meses em São Paulo, a atriz e professora de inglês deixou para trás, em Salvador, uma casa que dividia com a mãe, as irmãs e os animais de estimação. Ela diz que “adora casa cheia”, mas está feliz em agora “ser dona do seu espaço”.
Hoje, em um pequeno apartamento na região central da capital paulista, em que vive sozinha, ela conta que os planos de constituir família estão longe do radar. O foco, para ela, é buscar estabilidade financeira e crescimento profissional:
“Nunca foi um plano para mim. Eu sempre foquei muito na minha carreira, tanto como professora, quanto como atriz. Eu quero focar nisso, que é o que me realiza. Quero me estabelecer profissional e financeiramente e depois procurar novos horizontes”.
Desigualdade regional
Apesar da redução do número de pessoas por domicílio na média do país, uma desigualdade regional persiste quando se trata dessa densidade. No Amazonas, a média atinge 3,64 pessoas por lar. Já no Rio Grande do Sul, cai para 2,54. Na capital Porto Alegre, são apenas 2,37.
Já no recorte por capitais, Macapá registra a maior média de moradores por domicílio: chega a 3,56. No outro extremo, Porto Alegre possui média de 2,37.
Por que o Censo foi adiado?
Estas são as primeiras informações que ajudam a traçar uma fotografia do Brasil depois da pandemia de Covid-19. A pesquisa deveria ter ido a campo em 2020, mas a crise sanitária e o impasse orçamentário com o governo federal, durante a gestão de Jair Bolsonaro, atrasaram a coleta. O último Censo foi realizado em 2010 e, de lá pra cá, o instituto realizava projeções para estimar o tamanho da população brasileira.
Para que serve o Censo?
O Censo, realizado a cada dez anos, é a mais ampla pesquisa sobre a população brasileira e é feita mediante visita ou coleta de informações em todos os domicílios do país.
O levantamento é usado como base para diversas políticas públicas, como distribuição de vacinas, e também como critério para repasses de recursos da União para municípios. É ainda a base para pesquisas eleitorais e investigações acadêmicas.