A fatia de testes positivos de covid-19 é ainda maior em São Paulo (com 46%) e Rio de Janeiro (49%), segundo relatório da Abrafarma, associação de farmácias
O começo de 2022 trouxe um pico de contágios de covid-19 no Brasil. Na virada do ano, o número de casos de covid-19 identificados em testes feitos em farmácias quadruplicou. A taxa de casos positivos no universo dos testes feitos também bateu recorde, superando o pior momento da pandemia, no começo do ano passado.
Os números são de atualização divulgada nesta quinta-feira, 6, pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), responsável por 45% das vendas de medicamentos e mais de 8.500 farmácias associadas em todos os estados e Distrito Federal (veja no gráfico abaixo).
Dos testes feitos nas farmácias associadas, a taxa de positivos saiu de 12% na semana até 26 de dezembro para 33% até 2 de janeiro. A fatia de diagnósticos positivos é a maior desde a implementação do serviço de testagem, em abril de 2020.
O número é ainda maior em São Paulo (com 46% de testes positivos entre o total feito) e Rio de Janeiro (49% de positivos) no mesmo período. Isto é, a cada dez pessoas que fizeram um teste de covid-19, quase cinco saíram da farmácia com diagnóstico positivo nesses lugares.
Dados da rede de serviços de saúde Dr. Consulta, que oferece exames de covid-19, mostram a mesma tendência de alta. Segundo a empresa, a taxa de positivos saiu da casa dos 2% em um cenário pré-festas de fim de ano e subiu para 7,5% em dezembro.
E agora, nesta primeira semana de janeiro, a taxa de positivados chegava a 38% até quarta-feira, 5.
Embora a taxa de testes positivos já se compare ao auge da pandemia nos dados da Abrafarma (o que pode ser usado como parâmetro para avaliar a tendência nacional), a alta de mortes nacionalmente não está nem perto daquele patamar diante da proteção das vacinas.
O Brasil chegou a ter mais de 3.000 mortes diárias e o maior número de vítimas do mundo em repetidos dias no início de 2021. Desta vez, a média móvel de sete dias divulgada pelo Ministério da Saúde está na casa de 100 vítimas.
Com cada vez mais contágios, há riscos de que o número aumente. Outro desafio são áreas com baixas taxas de vacinação, como alguns estados da Região Norte, com menos de 50% da população vacinada.
“O surto de gripe provocado pelo vírus da influenza e as celebrações de Natal certamente colaboraram para esse avanço surpreendente. Embora os números ainda estejam distantes do pico que observamos de maio a junho, os dados são preocupantes e exigem mais medidas preventivas e de contenção”, diz em nota Sérgio Mena Barreto, presidente da Abrafarma.
Alta procura por testes
Como o setor de diagnóstico foi pego de surpresa pelo aumento da demanda por testes de covid-19, farmácias e laboratórios em todo o Brasil já registram falta de testes ou um período de alguns dias até se obter um agendamento, conforme a EXAME apurou.
A busca por testes deu um salto, de 50% entre a semana até 26 de dezembro e a semana de 2 de janeiro, segundo a Abrafarma.
Foram mais de 280.000 testes feitos na semana até 2 de janeiro, ante patamar abaixo de 100.000 antes das festas de fim de ano. A tendência é que o número siga subindo.
O Brasil tem taxas baixas de testagem na comparação com países europeus, vários asiáticos e mesmo vizinhos sul-americanos, como Uruguai e Chile.
O número de testes tende a acompanhar a gravidade da pandemia, uma vez que, no Brasil, é comum que apenas pessoas sintomáticas se testem.
No registro das farmácias, o recorde de testes feitos no Brasil também é do período entre março e maio de 2021, quando a variante P1 e a falta de vacinas fizeram o Brasil ter seu pior momento da pandemia. Mais de 400.000 testes eram feitos por semana na época nas associadas da Abrafarma, e mais de 1 milhão por mês.
Já quando a vacinação avançou e o número de casos graves diminuiu, sobretudo a partir de julho, o número de testes também caiu. Os testes feitos chegaram a somar pouco mais de 500.000 ao longo de todo o mês a partir de outubro, até voltarem a subir em dezembro.