O número de casos de câncer no fígado deve quase dobrar até 2050, de acordo com um estudo publicado na revista The Lancet. Estima-se que os diagnósticos globais aumentem dos 870 mil de 2022 para 1,5 milhão em 25 anos.
Esse crescimento está ligado principalmente a fatores que podem ser evitados. Mais de 60% dos casos previstos estão associados a causas controláveis, como hepatites virais (com vacina disponível), consumo de álcool e fígado gorduroso, também conhecido como doença hepática esteatótica.
O estudo, feito por pesquisadores da China, Estados Unidos, França e Japão, indica que pequenas mudanças nos hábitos de vida poderiam evitar até 17 milhões de novos casos e 15 milhões de mortes até 2050. O câncer no fígado atualmente é a terceira maior causa de morte por câncer no mundo.
Valérie Paradis, líder da comissão do estudo e professora do Hospital Beaujon na França, ressalta a importância de conscientizar globalmente sobre a doença: “Embora o câncer no fígado seja difícil de tratar, identificar os fatores de risco permite desenvolver estratégias específicas de prevenção. Com esforços contínuos, muitos casos podem ser evitados e a qualidade de vida dos pacientes, melhorada”.
Principais sintomas
O câncer no fígado é o sexto tipo de câncer mais comum mundialmente. As causas mais frequentes incluem hepatites mal tratadas, consumo excessivo de álcool, cirrose, doenças hereditárias, exposição a toxinas e obesidade.
Nos estágios iniciais, muitos pacientes não apresentam sintomas. Quando aparecem, é importante observar sinais como perda de peso sem razão aparente, falta de apetite e dor na parte superior do abdômen. Outros sintomas característicos incluem icterícia (pele e olhos amarelados) e fezes claras. Náuseas, vômitos, fadiga e inchaço abdominal também podem ser indicativos da doença.
Obesidade e álcool como fatores de risco
A forma mais grave das doenças inflamatórias do fígado, chamada MASH, deve aumentar 35% até 2050. Essa condição é causada pelo acúmulo de gordura no órgão, especialmente em pessoas com obesidade, diabetes ou problemas cardíacos.
Hashem B El-Serag, hepatologista do Baylor College of Medicine (EUA), destaca que “o crescimento da obesidade está aumentando o risco de câncer no fígado, devido ao excesso de gordura em torno do órgão”. O consumo de álcool também contribui para o avanço da doença, com casos relacionados a ele aumentando de 19% para 21% até 2050. Embora os casos vinculados às hepatites B e C estejam diminuindo, eles ainda representam mais da metade dos casos.
A China responde por mais de 40% dos diagnósticos globais, principalmente devido às frequentes infecções por hepatite B, reforçando a importância da vacinação e do diagnóstico precoce.
Detecção e prevenção
Grande parte dos tumores no fígado não apresenta sintomas nos primeiros estágios, o que dificulta a detecção. Quando surgem, sinais como emagrecimento, fraqueza, dor abdominal, náuseas e icterícia podem indicar a presença do câncer.
O diagnóstico é feito por meio de exames de sangue, imagens e, em alguns casos, biópsia. O rastreamento precoce é raro entre a população geral, mas recomendado para grupos específicos, como pacientes com cirrose ou infecção crônica por hepatite B, explica o oncologista Artur Rodrigues Ferreira, da Oncoclínicas.
Sugestões para reduzir o avanço da doença
- Ampliar a vacinação contra hepatite B em regiões com alta prevalência.
- Implementar triagem universal para hepatite e ampliar o acesso a tratamentos eficazes para hepatite C, que tem cerca de 90% de chance de cura.
- Adotar políticas públicas para reduzir o consumo de álcool, incluindo impostos, advertências em rótulos e restrições à publicidade.
- Promover ambientes alimentares saudáveis com regulação e rotulagem de alimentos ultraprocessados.
- Incluir orientações sobre dieta e exercícios nos cuidados clínicos para prevenção e tratamento.
Tratamento
Nos casos avançados, o tratamento pode incluir cirurgia, transplante de fígado, ablação, radioembolização, imunoterapia e terapias-alvo. A quimioterapia é usada frequentemente conforme a condição clínica e a resposta do paciente. A chance de cura é maior quando o tumor é detectado precocemente.