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segunda-feira, 18/08/2025

Carta de diplomata brasileiro revela conflito na Síria após massacre

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Uma carta do Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão Internacional Independente de Inquérito da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Síria, denuncia conflitos no país após a saída de Bashar al-Assad e o começo do governo interino liderado por Ahmed al-Sharaa.

Qual foi a situação?

Os alauitas são o segundo maior grupo étnico-religioso na Síria, com cerca de 2,6 milhões de habitantes. Eles pertencem à mesma etnia da família Assad, que governou a Síria rigidamente durante mais de cinquenta anos.

Em março, grupos alauitas que apoiavam o antigo regime de Assad entraram em conflitos com as forças do novo governo. A violência ocorreu em três províncias sírias, provocando mais de 1,4 mil mortes, em sua maioria civis.

Pinheiro enviou uma carta ao chanceler sírio Asaad al-Shaibani, informando sobre o relatório da comissão sobre a violência que marcou o país entre janeiro e março. Naquele período, mais de 1,4 mil pessoas perderam a vida devido aos confrontos entre grupos alauitas, combatentes leais ao ex-presidente Bashar al-Assad e forças do governo atual, nas regiões de Latakia, Tartus e Hama.

De acordo com o diplomata, continuam a ocorrer “graves violações de direitos humanos” na Síria, mesmo após o fim do regime anterior. Na carta, que acompanha o relatório final da ONU, Pinheiro afirmou que a comissão identificou homicídios, sequestros e destruição de instalações médicas, possíveis crimes de guerra.

Embora forças do governo liderado por al-Sharaa tenham participado dos confrontos, o relatório não encontrou provas de que a violência tenha sido uma política oficial da nova administração síria.

Como o novo governo chegou ao poder?

O diplomata também ressaltou que o atual governo sírio tem colaborado com as investigações independentes da ONU, algo que não acontecia quando a família Assad estava no comando do país.

“Desejo expressar nossa gratidão pela reunião produtiva que tivemos em março e pelo contínuo apoio e facilitação do nosso trabalho na Síria — especialmente durante nossa missão nas áreas costeiras no mês passado”, escreveu Pinheiro na correspondência.

Apesar do relatório da ONU mencionar violações contra a população e vincular forças governamentais aos episódios violentos, o documento foi bem aceito pela atual administração síria.

O ministro das Relações Exteriores e Expatriados da Síria, Asaad al-Shaibani, respondeu à carta agradecendo os esforços da ONU e afirmando que o governo está atento às recomendações da comissão para evitar futuros episódios de violência.

Ele também reafirmou o compromisso do governo de al-Sharaa com o respeito à dignidade humana e o esforço para unificar o povo sírio após anos de guerra civil.

“Estamos atentos às recomendações detalhadas e acreditamos que, junto com as da Comissão Nacional Independente, elas servirão como guia para o progresso contínuo da Síria, apesar dos desafios internos e externos. Conforme mencionado, tais recomendações exigem a ampliação dos esforços em andamento e a adoção de medidas adicionais para garantir justiça, responsabilização e prevenção de novas violações”, escreveu o ministro na carta de resposta.

Troca de cartas ocorreu após novo episódio violento na Síria

Mesmo com o relatório da ONU descartando ordens governamentais para os ataques de março, forças ligadas a al-Sharaa estiveram envolvidas em um novo massacre dias antes da troca de correspondências entre Pinheiro e al-Shaibani.

No começo de julho, beduínos árabes sunitas — mesma vertente religiosa do grupo que governa a Síria atualmente — atacaram e roubaram o carro de um druso. Isso levantou retaliações de milícias drusas, e uma onda de sequestros e combates dominou a região de Sweida.

As tropas governamentais foram enviadas à província afetada. No entanto, segundo organizações de direitos humanos locais, os militares se uniram aos beduínos para atacar os drusos.

Antes do cessar-fogo decretado oito dias após o início dos combates, o governo de Israel também interveio na violência, realizando bombardeios na Síria. A minoria drusa tem laços históricos com Israel, que qualificou o conflito como perseguição aos drusos.

O Observatório Sírio de Direitos Humanos (SOHR) registrou 1.653 mortes nos confrontos entre drusos, beduínos e forças do governo.

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