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quinta-feira, 07/08/2025

Carrapato pode ajudar a tratar febre maculosa

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Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) descobriram uma substância presente na saliva do carrapato que pode abrir novas possibilidades para o tratamento da febre maculosa.

Esses pesquisadores conseguiram isolar a molécula Amblyostatin-1 da saliva do carrapato Amblyomma sculptum, que é o principal transmissor da doença. Estudos iniciais mostraram evidências de que essa molécula possui propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras, atrasando a ação imediata do corpo em combater a bactéria causadora da febre maculosa.

“A molécula que identificamos é um imunomodulador, fundamental não apenas para compreender o contágio da febre maculosa — ajudando o corpo a bloquear a infecção —, mas também por sua capacidade de interferir no sistema imunológico, o que pode ser útil no desenvolvimento de novos tratamentos,” afirma o professor de imunologia Anderson de Sá-Nunes, responsável pela pesquisa.

O estudo foi publicado na revista científica Frontiers in Immunology, em 16 de julho, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A equipe contou com a colaboração de pesquisadores da Grécia, República Tcheca e Espanha.

O que é a febre maculosa?

A febre maculosa é transmitida pela picada do carrapato-estrela, frequentemente encontrado em capivaras e bois, e presente em áreas naturais como margens de rios e vegetação.

Entre 2014 e 2025, o Brasil registrou cerca de 59 mil casos suspeitos, com 2,7 mil confirmados e 782 mortes, resultando numa taxa de letalidade de 29,1%. O diagnóstico rápido é essencial para um tratamento eficaz.

A doença é causada por bactérias do gênero Rickettsia, sendo Rickettsia rickettsii responsável pelos casos mais graves, enquanto Rickettsia parkeri gera quadros mais leves. A transmissão ocorre exclusivamente pela picada do carrapato infectado, não havendo transmissão direta entre pessoas.

Os sintomas principais incluem febre alta, dor de cabeça intensa, diarreia, dores musculares contínuas e, em casos mais severos, paralisia e gangrena nos membros.

Para prevenir, é importante evitar contato com carrapatos e inspecionar o corpo periodicamente ao estar em áreas de risco. Caso o carrapato seja encontrado, deve ser retirado com uma pinça aplicando leve torção, sem esmagar o carrapato, evitando contato com a saliva ou partes bucais do inseto.

O tratamento correto com antibióticos deve ser iniciado dentro dos primeiros dois a três dias após o aparecimento dos sintomas para garantir melhores resultados, pois atrasos podem levar a complicações graves e até à morte.

Potencial terapêutico da enzima

O carrapato transmite não só a bactéria, mas também moléculas que suprimem a resposta imune do organismo, facilitando a instalação da doença e dificultando o diagnóstico precoce. A Amblyostatin-1, encontrada na saliva dos carrapatos, é um tipo de cistatina que inibe enzimas relacionadas à resposta imune.

Nos experimentos com camundongos, a inibição das catepsinas por essa molécula resultou na diminuição da inflamação. Isso sugere que a substância tenha potencial para o tratamento de doenças inflamatórias crônicas e autoimunes, desde que adaptada para uso clínico.

Além disso, a Amblyostatin-1 não é reconhecida pelo sistema imunológico, o que impede a produção de anticorpos contra ela, permitindo uma ação prolongada e eficaz sem perda de efeito. Isso é importante para tratamentos que exigem uso contínuo em longo prazo.

“Essa característica faz dela um antígeno silencioso, ou seja, o corpo não a reconhece como ameaça, o que possibilita seu uso constante em terapias para problemas inflamatórios,” acrescenta Sá-Nunes.

Perspectivas futuras

Nos testes em laboratório, a Amblyostatin-1 reduziu a inflamação da pele e estimulou a produção de IL-10, uma substância natural com efeito anti-inflamatório. Isso indica que a molécula pode ser um agente imunobiológico promissor, capaz de modular o sistema de defesa sem causar reações agressivas, o que é vantajoso em tratamentos de processos inflamatórios severos.

Embora mais estudos sejam necessários para aplicação em humanos, os dados sugerem que a Amblyostatin-1 pode abrir caminho para novos medicamentos.

O grupo de pesquisadores já havia analisado essa molécula anteriormente e notou que sua produção aumenta quando o carrapato se alimenta do sangue, ajudando a não despertar alertas no hospedeiro.

Com essas descobertas, os cientistas esperam desenvolver estratégias para impedir a bactéria de invadir o organismo humano sem ser notada, buscando neutralizar a febre maculosa nas fases iniciais e reduzir o número de mortes causadas pela doença.

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