Na busca por derrubar o governo militar em Mianmar, diversos grupos insurgentes vêm utilizando formas alternativas para financiar sua resistência armada. Entre essas formas, destacam-se as campanhas de doações e vaquinhas online, amplamente divulgadas nas redes sociais.
Ditadura em Mianmar
Mianmar tem um histórico marcado por golpes militares e foi governado por militares por 49 anos. Em 2011, houve uma aceitação inicial dos militares para a transição democrática, o que permitiu a realização das primeiras eleições livres em 2015. Porém, em 2021, ocorreu um novo golpe após a vitória da oposição nas eleições de 2020.
Alegando fraude eleitoral, os militares retomaram o poder prometendo novas eleições em um ano. Contudo, esse pleito foi postergado várias vezes, e a expectativa atual é de que as eleições gerais ocorram em dezembro deste ano.
Recentemente, o grupo de ativistas Yellow Tactical arrecadou US$ 2,7 mil, em parceria com a organização Liberate Myanmar, por meio da venda de patches militares. Segundo essas organizações, que atuam na educação militar para autodefesa, toda a arrecadação foi destinada para a Força de Defesa das Nacionalidades Karenni (KNDF), um dos muitos grupos armados que lutam pela restauração da democracia.
Em três anos, estima-se que o coletivo tenha levantado cerca de US$ 8,5 mil com a venda dos distintivos, que custam cerca de US$ 15 cada. Essa iniciativa é apenas uma entre várias na internet que financiam a resistência armada em Mianmar.
Segundo relatório recente do Centre on Armed Groups, organização independente sediada na Suíça, doações representam a principal fonte de financiamento para os grupos armados contra o regime. As redes sociais desempenham papel essencial na divulgação dessas campanhas de arrecadação.
Além dos métodos alternativos, as Forças de Defesa do Povo (PDF) utilizam formas tradicionais, como taxações em áreas sob seu controle, exploração de recursos naturais e venda de ativos que antes eram públicos.
Golpe militar
Comandada pelo general Min Aung Hlaing, Mianmar vive sob uma ditadura militar desde 2021, após o golpe que depôs o governo civil eleito. Os militares alegaram fraude nas eleições democráticas que haviam colocado a oposição no poder no ano anterior.
Na ocasião, o então presidente Win Myint e a ex-chefe de Estado e líder da oposição San Suu Kyiu foram presos.
Após controlar o país, a junta militar suspendeu a transição democrática e prometeu eleições em um ano, mas o processo foi repetidamente adiado com a extensão do estado de emergência.
Nos meses iniciais após o golpe, grupos de oposição e milícias se organizaram para resistir ao regime, que recebe apoio principalmente da China.
A Organização das Nações Unidas (ONU) acusa as forças militares de atacarem áreas civis, como escolas e locais religiosos, violando leis internacionais. Estima-se que mais de 6,8 mil civis tenham sido mortos desde 2021. Mais de 22 mil pessoas foram detidas, segundo o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (OHCHR).
Além disso, mais de 3,5 milhões tiveram que deixar suas casas devido ao conflito, e 1,3 milhão buscaram refúgio em outros países.
Apesar da discrepância de poder entre a junta militar e os grupos insurgentes, estes últimos, mesmo utilizando armas improvisadas como algumas de plástico produzidas em 3D, conseguiram infligir pesadas perdas ao regime. Atualmente, apenas cerca de 21% do território de Mianmar está sob controle militar, conforme análises recentes evidenciam.