VITOR HUGO BATISTA
FOLHAPRESS
A morte do urologista Eric Roger Wroclawski inspirou a criação do Novembro Azul, uma ação que visa informar e orientar a população brasileira sobre o câncer de próstata. Ele faleceu em 2009, aos 56 anos, após um ano lutando contra a doença.
Em 2001, Wroclawski participou como palestrante em um evento chamado “Check-Up da Próstata”, promovido pela Folha de S.Paulo junto com a Associação Paulista de Medicina na sede do jornal, em São Paulo.
De acordo com a jornalista Marlene Oliveira, amiga pessoal e idealizadora da campanha, “é uma dessas ironias da vida”.
Nascido no Marrocos, Wroclawski veio ao Brasil ainda criança e iniciou medicina na USP aos 17 anos. Ele era conhecido como Balu durante a faculdade.
Ao longo da carreira, foi presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e da Confederação Americana de Urologia, cargo que assumiu mesmo doente, quando já estava hospitalizado. Também foi vice-presidente do Hospital Israelita Einstein e professor na Faculdade de Medicina da Fundação do ABC.
Enquanto enfrentava o câncer, Wroclawski compartilhou com Marlene o sonho de criar uma instituição para ajudar os homens a cuidar melhor da saúde. Ele ressaltava a importância de campanhas e informações para os homens.
Nesse período, Marlene liderava o Instituto Lado a Lado pela Vida, fundado em 2008, que trabalha para conscientizar sobre a saúde masculina, principalmente contra câncer e doenças do coração.
Depois do falecimento do amigo em 2009, Marlene buscou contato com o movimento internacional Movember, que promove a conscientização do câncer de próstata e outras questões masculinas, incentivando os homens a deixarem o bigode crescer e doarem dinheiro para pesquisas.
Apesar do interesse dos organizadores em levar o Movember ao Brasil, a iniciativa não teve sucesso inicialmente, pois os homens não aderiram ao movimento e nem contribuíram financeiramente.
Para tornar a campanha mais eficaz no Brasil, Marlene adaptou a ideia, fazendo até parcerias com a Confederação Brasileira de Futebol, mas sentia que faltava algo nacional e contínuo.
Inspirando-se no Outubro Rosa, que mobiliza a sociedade contra o câncer de mama desde os anos 2000, ela estudou sua estrutura e conversou com a American Cancer Society para criar uma campanha semelhante voltada aos homens.
Assim, o Novembro Azul foi oficialmente lançado em 2011. O mês inclui datas importantes como o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata e o Dia Internacional do Homem.
Com o tempo, a campanha ganhou todo o país e ampliou seu foco, não só no câncer de próstata, mas na saúde completa do homem, incluindo saúde mental e outras doenças crônicas. Em 2025, o lema é “Você tem muita vida pela frente”.
Em 2023, o Instituto Lado a Lado pela Vida ajudou a criar a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, que busca diminuir casos da doença, melhorar a qualidade de vida e reduzir mortes por meio de prevenção, diagnósticos precoces, tratamento e pesquisas.
Mesmo com avanços, Marlene destaca barreiras, como o preconceito em relação ao exame de toque retal e dificuldade no acesso a serviços públicos de saúde.
O câncer de próstata foi responsável pela morte de 48 homens por dia no Brasil em 2024, totalizando 17.587 óbitos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia. O Instituto Nacional do Câncer estima cerca de 72 mil novos casos por ano. Quando detectado cedo, a chance de cura passa dos 90%.
Marlene conclui que a saúde do homem precisa ser prioridade nas políticas públicas para evitar que eles continuem invisíveis no sistema de saúde.
