O Instituto Butantan criou dois testes rápidos que detectam a leptospirose em até 25 minutos — um baseado em amostra de urina e outro em sangue. Essa inovação representa um avanço significativo na identificação precoce da doença.
Diferente dos métodos tradicionais, que podem levar dias ou semanas para obter resultados, os novos testes garantem uma resposta rápida, fator crucial para o início do tratamento e melhora no quadro clínico. O Ministério da Saúde estima que 40% dos pacientes graves acabam falecendo.
Essas tecnologias foram criadas por pesquisadoras do Laboratório de Bacteriologia e do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do instituto, já tendo patentes concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Entendendo a leptospirose
A leptospirose é causada pela bactéria Leptospira, encontrada na urina de animais contaminados. A transmissão ocorre pelo contato direto ou indireto com essa urina, principalmente em situações de enchentes.
A bactéria entra no organismo através da pele lesionada ou mucosas, durante exposição prolongada à água contaminada. Animais como cães, bovinos, suínos e equinos são os principais vetores da doença.
Os sintomas aparecem geralmente entre sete e 14 dias após o contato com a bactéria. A doença é mais comum em períodos chuvosos e enchentes, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do país.
Como funcionam os testes?
Os exames identificam anticorpos da bactéria Leptospira. O teste feito com urina utiliza quimioluminescência, que consiste na emissão de luz durante uma reação química, possibilitando a detecção precoce da infecção.
Já o teste com sangue é baseado em método imunocromatográfico, semelhante aos testes rápidos de Covid-19, sendo mais eficiente quando a bactéria já está disseminada no organismo.
Essa combinação amplia as chances de diagnóstico ágil, reduzindo complicações e internações. Segundo a pesquisadora Patricia Aniz, que coordenou o desenvolvimento dos testes, “o diagnóstico da leptospirose é complicado pois os sintomas se confundem com outras doenças febris como dengue, malária e febre amarela. Com um teste rápido, simples e eficaz, conseguimos tratar rapidamente os casos graves”.
Limitações dos métodos tradicionais
O principal exame hoje é o teste de aglutinação microscópica (MAT), padrão ouro que exige cultivo da bactéria viva. No entanto, ele tem baixo desempenho no início da infecção e pode levar até 30 dias para o resultado.
Outra técnica usada é o ELISA-IgM, que detecta anticorpos na fase aguda da doença, mas possui baixa especificidade e pode confundir com outras enfermidades.
Patricia Aniz ressalta que a demora no diagnóstico atrasa o tratamento e piora o quadro do paciente.
Tecnologia acessível
O teste imunocromatográfico foi desenvolvido durante o doutorado da pesquisadora Tatiana Gotti, com apoio de Letícia Rocha, Roxane Piazza e Patricia Aniz. A técnica utiliza uma fita de nitrocelulose e papel absorvente, onde se coloca uma amostra de soro.
O contato com reagentes específicos indica a presença da infecção: duas linhas vermelhas representam resultado positivo; uma linha, negativo. O procedimento leva em torno de 20 minutos.