PATRÍCIA PASQUINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O Instituto Butantan, localizado em São Paulo, está iniciando o desenvolvimento e testes de um novo medicamento feito com anticorpos especiais para combater o vírus zika. O foco principal é proteger mulheres grávidas, mas o remédio também pode ser usado por qualquer pessoa em risco de contrair o vírus. Essa informação foi confirmada pelo diretor do instituto, Esper Kallás.
Em abril, Eleuses Paiva, secretário de Saúde de São Paulo, anunciou que o Instituto Butantan seria um centro de ações rápidas para produzir vacinas e remédios de forma acelerada.
O vírus zika pode causar problemas sérios em bebês quando infecta as mães durante a gravidez. Em 2015, casos de microcefalia foram ligados ao zika, e o Ministério da Saúde declarou emergência nacional. O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que também transmite dengue e chikungunya.
Esper Kallás explicou que, se houver uma nova epidemia de zika, mesmo que menor que a de 2015, regiões como São Paulo podem ser afetadas sem uma solução pronta, exigindo o controle do mosquito transmissor.
O projeto, que inclui a produção dos anticorpos e os estudos necessários, terá investimento de cerca de R$ 78,4 milhões, iniciando com verba da Fundação Butantan.
O anticorpo usado no medicamento foi licenciado para o Instituto pelo Universidade Rockefeller, nos EUA, onde o imunologista brasileiro Michel Nussenzweig descobriu um anticorpo capaz de neutralizar o vírus zika. Ele selecionou dois anticorpos com boa ação contra o vírus e desenvolveu-os para estudos em laboratório e testes com animais.
Esper Kallás explicou que o anticorpo impede o vírus de se multiplicar nas células e que a Universidade Rockefeller procurou o Butantan para o desenvolvimento conjunto do produto.
O acordo entre as instituições permitirá que o Butantan produza o primeiro lote em escala industrial e conduza um estudo clínico para verificar a segurança do medicamento.
O diretor informa que o estudo vai analisar se o sangue das pessoas que receberem o anticorpo consegue neutralizar o vírus zika.
Atualmente, o Butantan já iniciou a produção do lote inicial, com cerca de 1.000 frascos, e o processo deve ser concluído em até um ano.
Um dos benefícios do anticorpo é que ele permanece no corpo por um longo período, possivelmente até seis meses, o que será confirmado nos estudos clínicos a serem realizados.
Esper Kallás exemplifica que, em situação de surto, uma mulher grávida pode receber o anticorpo para obter uma proteção extra contra o vírus.
O primeiro estudo será feito com aproximadamente 30 a 40 voluntários saudáveis; testes com mulheres grávidas ocorrerão numa fase posterior.
Esper Kallás destaca que o interesse principal é brasileiro, pois os EUA têm baixo risco de transmissão do vírus. Ele ressalta que encontrar soluções locais é essencial para combater doenças negligenciadas como o zika, e o Butantan tem papel importante ao preencher essa lacuna.