Ranier Bragon
Brasília, DF (FolhaPress) – O União Brasil comanda três ministérios na administração Lula (PT), mas é a sigla da coalizão que mais tem apresentado episódios de ruptura com o governo.
Proporcionalmente, é o partido que mais assinou requerimentos da oposição recentemente, estabeleceu uma federação com o PP em tom oposicionista, protagonizou a rejeição ao convite para ocupar um ministério, deixando o governo em situação constrangedora, e alinhou-se publicamente à oposição para tentar derrubar a proposta de aumento de impostos trabalhistas feita pelo ministro Fernando Haddad.
Essas ações incluíram uma coletiva contra Lula no Salão Verde da Câmara e entrevistas de seus principais líderes, Antonio Rueda e Antonio Carlos Magalhães Neto, com críticas ao presidente e gestos ao bolsonarismo.
Quem são, então, os membros do União Brasil que apoiam efetivamente o governo?
Além de analisar os dados sobre votações no Congresso, a reportagem entrevistou membros da legenda que conta com 60 deputados federais, sete senadores e quatro governadores.
Quase que unanimemente, identificaram como principais aliados do governo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o ministro do Turismo, Celso Sabino, o deputado federal e ex-ministro das Comunicações de Lula, Juscelino Filho (MA), e em menor escala o líder da bancada na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA).
Com base nas principais votações realizadas no início de 2025, foram ainda identificados três deputados – Meire Serafim (AC), Damião Feliciano (PB) e Daniela do Waguinho (RJ) – que votaram a favor do governo em mais de 80% das ocasiões, sem associar-se a requerimentos da oposição.
A reportagem tentou contato com todos os políticos citados; apenas Daniela e Juscelino declararam apoio direto ao presidente Lula.
“Fui ministra, sou vice-líder do governo no Congresso Nacional e aliada do presidente Lula”, afirmou Daniela, que ocupou ministério por pouco mais de seis meses, sucedida por Sabino em 2023.
“Alguns partidos entregam 100% dos votos, porém isso representa apenas cinco ou seis votos”, explicou Juscelino. “O que realmente importa são os votos absolutos para aprovar ou barrar projetos e, nesse aspecto, o União Brasil é um dos principais contribuintes para o governo na Câmara. Em várias votações ao longo de dois anos e meio, entregamos de 30 a 50 votos, ficando apenas atrás do PT.”
Ele reconhece divergências em um partido grande e recentemente fundido, ressaltando que o União Brasil não pertence à oposição.
Há uma ala mais conservadora abrangendo Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mas também uma base sólida no Norte e Nordeste, alinhada ao governo e a lideranças próximas ao presidente Lula.
O líder da bancada, Pedro Lucas, adotou postura moderada, reconhecendo divergências como sinal de vitalidade democrática e afirmando que a bancada apoia o governo em pontos positivos e mantém independência para sugerir correções.
“O diálogo com o Executivo é natural, baseado no respeito ao Parlamento e responsabilidade fiscal”, explicou Pedro Lucas, que rejeitou o convite para ministro das Comunicações após anúncio oficial, gerando tensão interna e recuo do partido.
Os demais governistas mencionados não quiseram comentar.
Alcolumbre é o elo principal com Lula no partido, influenciando indicações ministeriais e dirigentes estatais, enquanto a ala oposicionista não hesita em manifestar-se publicamente.
Em entrevistas ao jornal O Globo, Rueda, presidente do União Brasil, criticou Lula, alegando falta de entregas e fragilidade crescente. Na coletiva no Salão Verde, lamentou o desequilíbrio fiscal do governo e rejeitou a ideia de aumentar impostos.
ACM Neto, vice-presidente, afirmou não ver sentido em ocupar cargos se o partido não apoiará Lula em 2026. O governador Ronaldo Caiado (GO), pré-candidato à Presidência, afirmou longo histórico de oposição ao PT e firme propósito de derrotar Lula nas próximas eleições.
Leur Lomanto Júnior (BA) destacou a independência do partido, reconhecendo a existência de deputados aliados ao governo, embora minoritários na Câmara.
A ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) dialogou com líderes do União Brasil, reconhecendo que parte da base atual de Lula poderá não apoiá-lo em 2026.
O União Brasil tem raízes na Arena, partido da ditadura militar, anteriormente conhecido como PFL e DEM, sempre aliado ao PSDB na oposição a Lula e ao PT. O crescimento do bolsonarismo levou à fusão com o PSL em 2021, estabelecendo a atual nomenclatura.
A aproximação recente com Lula ocorreu graças a Alcolumbre e ao antigo presidente da legenda, Luciano Bivar, que foi substituído por Rueda, seu antigo auxiliar.
Em abril, o União Brasil formalizou federação com o PP. Além desses, a ala mais à direita da base de Lula inclui PSD, MDB e Republicanos.