Este artigo foi elaborado pela professora Alison Fixsen, especialista em psicologia da Universidade de Westminster, Reino Unido, e publicado na plataforma The Conversation Brasil.
Celebridades, influenciadores e pessoas comuns compartilham nas redes sociais imagens de corpos definidos e musculosos, além de dicas para conquistá-los. Ter um corpo forte e tonificado deixou de ser exclusivo para atletas profissionais e fisiculturistas, tornando-se desejo comum entre muitos.
No entanto, esse aumento no interesse por físicos musculosos trouxe também uma pressão significativa sobre homens e mulheres para atingirem esses padrões. Paralelamente, surgiu um tipo novo de transtorno alimentar voltado para o ganho muscular magro, conhecido como “comer transtornado orientado para a muscularidade” (Muscularity Oriented Disordered Eating – Mode).
Essa condição envolve comportamentos alimentares desordenados, como uso exagerado de suplementos proteicos, dietas muito rígidas, controle detalhado de macronutrientes (proteínas, carboidratos e gorduras) e constante monitoramento da massa muscular.
Diferentemente da anorexia ou bulimia, o Mode está focado na busca pela musculatura e afeta principalmente homens jovens. No entanto, assim como outros transtornos alimentares, pode prejudicar a rotina diária, os relacionamentos sociais e a saúde emocional.
Redes sociais desempenham papel importante nesse contexto. Embora forneçam informações úteis sobre saúde e exercícios, seus algoritmos frequentemente promovem imagens impressionantes e extremas de corpos musculosos, que podem reforçar ideais inatingíveis e causar insatisfação corporal e distúrbios alimentares.
Plataformas como Instagram e TikTok estão repletas de conteúdos de “fitspiração” — imagens e mensagens para incentivar hábitos saudáveis — mas muitas vezes mais focados na aparência do que na saúde real.
Além disso, influenciadores promovem estilos de vida e dietas extremas, uso constante de suplementos e até mesmo drogas como esteroides anabolizantes. Esses influenciadores, muitas vezes patrocinados por marcas, incentivam seguidores a adotarem práticas sem orientação profissional, o que pode ser arriscado.
Embora nem todos os praticantes de atividades físicas estejam sujeitos ao Mode, este transtorno tem crescido, especialmente entre estudantes universitários que são grandes consumidores de redes sociais e iniciantes no controle alimentar.
Estudos indicam que o Mode está associado a preocupações com a imagem corporal, prática de exercícios para ganhar peso, uso de esteroides, percepção corporal distorcida e outros fatores que variam entre homens e mulheres.
Consequências para a saúde
Os impactos do Mode podem ser físicos e mentais. Incluem padrões alimentares desordenados, compulsão alimentar, ortorexia nervosa (obsessão patológica pela alimentação saudável) e riscos decorrentes do uso excessivo de suplementos proteicos que podem conter substâncias nocivas.
Estudos mostram alto consumo de whey protein e creatina entre jovens do sexo masculino, além do uso expressivo de esteroides com efeitos colaterais sérios, como alterações de humor e problemas sexuais.
Também há riscos de problemas intestinais e metabólicos devido ao uso excessivo de suplementos processados, que não devem substituir fontes naturais de proteína, como carnes, peixes, laticínios e leguminosas.
Impacto social e emocional
O Mode pode causar isolamento social, ansiedade e depressão, com pessoas priorizando dieta e exercícios acima de compromissos profissionais, acadêmicos e sociais. Estudos mostram que atletas que seguem dietas extremas sentem culpa e frustração quando não conseguem manter esses padrões.
Mulheres com Mode relatam níveis elevados de ansiedade e isolamento social.
Reflexões e recomendações
Reconhecer o Mode como problema de saúde pública é fundamental para promover uma cultura fitness mais saudável e inclusiva. Instituições de ensino, academias e treinadores devem estar atentos a esse transtorno em pessoas muito focadas na aparência ou que exageram nos treinos.
É necessário ampliar a identificação dos fatores de risco e aumentar a responsabilidade da indústria fitness quanto aos produtos e estilos de vida que divulga.
A adoção de práticas seguras e equilibradas na busca por um corpo saudável deve ser sempre incentivada, com orientação profissional adequada para evitar prejuízos físicos e emocionais.