ITALO NOGUEIRA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
O juiz Marcelo Bretas, que foi aposentado compulsoriamente pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), descreveu os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 como uma confusão e desordem. Ele preferiu não comentar sobre a trama golpista de 2022 envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O que se viu na praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro foi uma desordem. As pessoas estavam desapontadas, esperando uma mudança milagrosa, algo como um herói, mas quando isso não aconteceu e a transição de governo seguiu seu curso, elas saíram para causar tumulto”, declarou em entrevista à Folha.
Ele questionou qual seria o crime envolvido, mencionando danos ao erário e bens protegidos, mas mostrou ressalvas quanto à ligação com outras questões, reiterando que prefere aguardar os desdobramentos do processo para formar uma opinião definitiva.
O magistrado também expressou preocupação com o ambiente de censura gerado pelos inquéritos conduzidos no STF (Supremo Tribunal Federal). Segundo ele, não há liberdade de expressão no país atualmente, e as pessoas temem se manifestar por receio de serem incluídas em investigações.
“Não existe liberdade hoje para opinar a menos que o faça a favor. Quando alguém fala a favor, sempre encontra apoiadores nas redes televisivas, mas suas falas parecem decoradas, não acrescentam e não são convincentes”, afirmou.
Marcelo Bretas optou por não comentar o projeto de lei que propõe anistiar os presos pelos atos golpistas, considerando isso uma questão política.
O juiz foi punido por supostas infrações na condução da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, incluindo a concentração irregular de processos e manipulação de depoimentos para reforçar vínculos entre ações. Ele criticou a pena máxima aplicada e detectou hipocrisia nas críticas à concentração de inquéritos no STF, especialmente em relação ao ministro Alexandre de Moraes, embora sem mencioná-lo diretamente.
“Hoje o que ocorre no Brasil, com a ampliação de certas investigações feitas no Supremo, me parece uma contradição que faz recordar o meu passado. Quando interessa, aceitam o procedimento, quando não, dizem que é irregularidade. Isso nunca aconteceu”, disse Bretas.
Apesar de suas posições alinhadas ao bolsonarismo, ele destaca que expõe uma postura conservadora sem se ligar diretamente a candidatos políticos.
“Sou evangélico, sempre deixei claro que sou conservador, mas nunca defendi pautas políticas. Quando abordo temas conservadores, automaticamente sou associado pela imprensa a políticos conservadores, o que dá a impressão errada de que estou falando em nome de algum deles. Na verdade, falo sobre temas, como aborto, sem envolver políticos específicos”, explicou.
No entanto, esteve presente em eventos oficiais ao lado de Bolsonaro e Wilson Witzel, participando de cultos e posando para fotos, sempre em caráter oficial.
“Fui convidado para a posse pelo filho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e achei uma deferência honrosa”, comentou.
Marcelo Bretas não se declarou desapontado com o pouco apoio político após sua punição, mencionando que apenas o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da Lava Jato em Curitiba, manifestou-se publicamente.
“Não sou político e não dependo de apoio político, sou técnico”, afirmou.
Ele negou interesse em carreira política, ressaltando que embora receba convites e pedidos, nunca alimentou vaidade nesse sentido. Com a punição do CNJ, está inelegível por oito anos, conforme a Lei da Ficha Limpa.