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domingo, 24/08/2025

Brasileiros gastam quase 10% da renda com juros

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MAELI PRADO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Quase 10% da renda das famílias brasileiras é usada apenas para pagar juros, refletindo a má qualidade das dívidas no Brasil, compostas principalmente por empréstimos de curto prazo e com altas taxas de juros.

Em maio, dados do Banco Central mostraram que esse percentual chegou a 9,86%, o maior desde 2005, ultrapassando ligeiramente o índice de 2023, ano em que foi lançado o programa Desenrola para facilitar a renegociação de dívidas.

Hoje, 27,79% da renda familiar vai para o pagamento total das dívidas, incluindo amortizações e juros. Isso significa que mais de um terço desse valor refere-se aos juros pagos.

Esse valor é quase três vezes maior do que a média em 17 países desenvolvidos, segundo o BIS (Banco de Compensações Internacionais). Nos Estados Unidos, famílias gastam cerca de 8% do orçamento com dívidas e no Japão 7,8%.

Segundo Rafael Schiozer, professor de finanças da FGV-EAESP, a diferença está no tipo de dívida: “No Brasil, as pessoas têm mais dívidas de cartão de crédito e empréstimos pessoais, que têm juros mais altos.”

O Banco Central indica que apenas 2,13% da renda das famílias brasileiras é usada para o crédito imobiliário, que tem juros menores e é acessível para poucos. Os outros 25,66% referem-se a dívidas com juros altos.

Estêvão Kopschitz, economista do Ipea, ressalta que muitas dívidas brasileiras são de curto prazo, que geralmente têm juros maiores.

“Em países desenvolvidos, as famílias têm dívida principalmente para crédito habitacional, que é garantido pelo imóvel e tem juros baixos,” explica.

SINAL DE ALERTA

O peso dos juros na renda das famílias subiu em 2023, caiu em 2024, mas voltou a aumentar recentemente, devido à combinação de juros elevados e maior oferta de crédito.

Em junho, a taxa média anual do crédito pessoal estava em 58,3%, a mais alta desde maio de 2023. O crédito com recursos livres (exceto imobiliário) cresceu 23,4% nos últimos dois anos.

Fábio Pina, assessor econômico da FecomercioSP, diz que o crescimento do crédito é impulsionado pela melhora do emprego e da renda nos últimos anos.

“O aumento do peso dos juros ocorre porque, com mais emprego e renda, o setor financeiro entende que o risco diminui e concede mais crédito, apesar dos juros altos,” esclarece.

Ele alerta que o Brasil está em um “sinal amarelo” sobre o endividamento: após diminuir em 2023, a inadimplência acima de 90 dias voltou a subir para 6,3%, segundo o Banco Central.

Em estudo, Fábio Pina apontou que os gastos com juros das famílias cresceram 20,5% em 2024, enquanto a renda anual só subiu 3,2%.

A educação financeira é vista como necessária para reduzir dívidas ruins, mas não é solução única.

Estêvão Kopschitz comenta: “O Brasil melhorou na educação financeira, com iniciativas do Banco Central nas escolas, mas as pessoas precisam entender que dívidas de curto prazo são caras.”

Rafael Schiozer acrescenta que o consumo deve ser mais responsável. “Evitar superendividamento é consumir conforme a renda. Muitas pessoas sabem que gastam mais do que ganham, então é necessária mudança de hábitos.”

Ele cita estudo do Banco Central que mostra que o crédito consignado (descontado em folha) pode reduzir consumo a longo prazo, ao reduzir o orçamento das famílias depois de alguns anos, mostrando o impacto do superendividamento.

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