Um brasileiro residente em Formosa, no estado de Goiás, dedicou pouco mais de dois meses como voluntário militar no exército da Ucrânia no conflito contra a Rússia. Arrependido, o homem de 28 anos estima ter gasto aproximadamente R$ 16 mil com os custos da viagem.
Ele foi recrutado por meio de grupos oficiais no WhatsApp, Telegram e Instagram, como muitos outros candidatos. As oportunidades oferecidas prometiam salários de até US$ 5 mil, equivalentes a cerca de R$ 25 mil.
Em entrevista à GQ Brasil, o brasileiro, que preferiu permanecer anônimo, contou que sua experiência no local ocorreu entre 20 de maio e 1º de agosto, conseguindo retornar ao Brasil com seus membros intactos. “Arrependo-me. Não faria isso novamente. Nenhum valor justifica”, afirmou.
Brasileiros na Ucrânia
Desde o começo do conflito, diversos brasileiros se uniram às tropas ucranianas contra a Rússia. Eles compõem a Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, que está vinculada ao exército ucraniano, com contratos que variam entre US$ 550 e US$ 4.800.
O Itamaraty registrou em julho a morte de 9 brasileiros e o desaparecimento de 17 em batalhas na Rússia e na Ucrânia. Ainda no mesmo mês, fontes diplomáticas confirmaram que mais de 20 brasileiros estão desaparecidos no conflito. No mundo diplomático, combatentes desaparecidos são considerados mortos, mesmo que seus corpos não tenham sido localizados.
O brasileiro esteve alojado na 4ª Legião Nacional de Treinamento, uma seção da Legião Internacional destinada a combatentes estrangeiros. Recebia três refeições diárias, mas devia arcar com os custos de equipamentos de melhor qualidade.
“Eles forneciam o material básico, porém para ter equipamentos melhores, como coletes e carregadores, era necessário pagar do próprio bolso para maior proteção e agilidade”, explicou.
Marcelo contou que as condições de trabalho eram ruins e diferentes das expectativas criadas pelos recrutadores, que também exigiam que os voluntários pagassem as contas de gás e energia do alojamento.
Ele descobriu que sua esposa estava grávida do segundo filho um dia antes de partir para a Ucrânia. Seu objetivo era cumprir seis meses de serviço militar e voltar com boa quantia de dinheiro para ajudar a família.
Ao chegar ao país, Marcelo teve que entregar o passaporte e o telefone para as autoridades. Durante uma ligação para sua esposa, soube que ela enfrentava uma gravidez de risco.
Ele iniciou negociações para recuperar o passaporte e retornar ao Brasil. Mesmo com o documento em mãos, enfrentou resistência dos superiores e recusou-se a continuar o serviço. Em um dado momento, fugiu e conseguiu retornar ao país.
Famílias buscam respostas
Como divulgado pelo Metrópoles, parentes brasileiros procuram informações sobre familiares que foram ao Leste Europeu para lutar e acabaram falecendo em combate.
No final de junho, mais três brasileiros foram confirmados mortos na guerra ao lado das forças ucranianas, incluindo Gustavo Viana Lemos, natural de Santa Catarina, e Gabriel Pereira, nascido em Minas Gerais.
A família de Gustavo relatou que vive uma situação de incerteza, sem confirmações oficiais sobre a morte do catarinense por parte do governo ucraniano ou do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.