A comitiva de senadores do Brasil que esteve nos Estados Unidos durante o anúncio das tarifas elevadas pelo presidente Donald Trump encontrou-se com oito congressistas norte-americanos, sendo apenas um deles do partido republicano, o mesmo do presidente.
O grupo de parlamentares chegou a Washington D.C. para uma viagem oficial entre os dias 28 e 30 de julho, com o intuito de ampliar o diálogo com empresários e congressistas, sem participar diretamente das negociações oficiais sobre a tarifa de 50% imposta pelos EUA. A agenda incluiu encontros em gabinetes políticos e na Câmara de Comércio Brasil-EUA.
O grupo foi recebido pelo senador republicano Thom Tillis, da Carolina do Norte, que, apesar de pertencer ao partido do presidente, é considerado independente. Tillis foi um crítico do pacote orçamentário de Trump e optou por não disputar a reeleição no próximo ano após divergências com o chefe da Casa Branca.
Os demais encontros ocorreram com senadores do partido democrata, oposição a Trump nas eleições de 2024. Conforme o senador e presidente da comitiva, Nelsinho Trad (PSD-MS), não estavam previstas reuniões oficiais no Departamento de Estado, órgão equivalente ao Itamaraty.
Congressistas que receberam a comitiva brasileira
- Ed Markey, senador democrata de Massachusetts;
- Tim Kaine, senador democrata da Virgínia;
- Thom Tillis, senador republicano da Carolina do Norte;
- Martin Heinrich, senador democrata do Novo México;
- Mark Kelly, senador democrata do Arizona;
- Chris Coons, senador democrata de Delaware;
- Jeanne Shaheen, senadora democrata de New Hampshire;
- Sydney Kamlanger-Dove, deputada democrata da Carolina do Norte.
Durante as reuniões, os senadores brasileiros foram incentivados a interromper relações comerciais com a Rússia. Os congressistas norte-americanos pretendem aprovar uma lei que imponha tarifas automáticas a países mantendo negócios com o governo de Vladimir Putin. Essa iniciativa busca pressionar o Kremlin a aceitar um cessar-fogo com a Ucrânia.
De acordo com o líder do Podemos no Senado e membro da comitiva, Carlos Viana (MG), os americanos alertaram para uma possível “crise ainda maior” nos próximos três meses. O Brasil importa fertilizantes russos essenciais para a agricultura. Jaques Wagner (PT-BA) destacou a dependência do país desses insumos e alertou que interromper as importações poderia paralisar o agronegócio brasileiro.
Continuidade das negociações após o anúncio das tarifas
Empresários e congressistas americanos reforçaram a necessidade de uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para Donald Trump. Conforme Jaques Wagner, líder do governo no Senado e integrante da comitiva, o presidente brasileiro demonstrou boa vontade para o contato, desde que não se discutam questões relacionadas ao Judiciário.
“Diversos interlocutores ressaltaram essa necessidade. Conversei com o presidente Lula, que afirmou que isso precisa ser respeitado. A diplomacia deve organizar esse encontro. Acho improvável que ocorra antes de primeiro de agosto. Lula não tem problema em falar com Trump. O tema da Rússia pode ser tratado em uma reunião bilateral, desde que as questões do Judiciário não sejam abordadas”, explicou Wagner.