Por Paulo Passos
São Paulo, SP (Folhapress)
O Brasil, que compra muitos produtos da China, agora vê também um grande aumento no número de trabalhadores chineses que vêm morar e trabalhar aqui. Em 2024, foram mais do que o triplo de vistos concedidos a chineses em relação ao ano anterior.
Foram 7.772 chineses que receberam autorização para morar no Brasil como trabalhadores expatriados. Um em cada cinco vistos de trabalho foi para pessoas da China, que lidera a lista de registros.
Essas informações foram obtidas pelo Observatório das Migrações Internacionais da Universidade de Brasília, em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Segundo Jonatas Pabis, coordenador de Imigração Laboral da Secretaria Nacional de Justiça, “os imigrantes representam na prática a mudança nas relações internacionais, mostrando o quanto a China está se tornando importante para o Brasil”.
Essa aproximação entre Brasil e China tem crescido nos últimos anos, especialmente com o governo Lula e com as mudanças políticas nos Estados Unidos com Donald Trump.
Com restrições nos EUA e Europa, empresas asiáticas passaram a investir mais no Brasil e na América Latina, trazendo produtos, marcas e trabalhadores.
Jonatas Pabis também destaca que antes os imigrantes chineses geralmente tinham pouca qualificação e trabalhavam em lojas e pastelarias. Agora, a maioria são executivos e técnicos especializados, que antes eram principalmente expatriados americanos e europeus.
A China tem incentivado a exportação de trabalhadores. Em 2009, durante visita de Lula à China, o então líder chinês Hu Jintao pediu ao Brasil para facilitar os processos para vistos de trabalho de funcionários chineses, melhorando o ambiente para investimentos.
Em 2017, uma nova lei de migração no Brasil tornou mais fácil para estrangeiros obterem autorização para trabalhar no país.
O número de autorizações para chineses em 2024 foi o maior já registrado desde 2013, quando quase 9 mil norte-americanos receberam vistos de trabalho.
Até recentemente, os Estados Unidos eram o maior fornecedor de mão de obra para o Brasil, mas desde a pandemia caíram para o terceiro lugar, atrás também das Filipinas, que têm muitos trabalhadores temporários em navios.
Os chineses que chegam ao Brasil têm perfis variados, incluindo trabalhadores temporários, especialistas em assistência técnica para fábricas e executivos de empresas.
Segundo dados, entre 20% e 30% dos funcionários de grandes e médias empresas chinesas no Brasil são expatriados da China.
Daniel Lau, conselheiro de empresas chinesas no Brasil, explica: “É comum que o topo da empresa nas multinacionais asiáticas seja formado por expatriados”.
Desde 2021, mais de 700 executivos chineses vieram para o Brasil para cargos de comando.
Em 2024, a maior parte dos registros de trabalho para chineses foi para cargos especializados em assistência técnica, totalizando mais de 4.000 casos, ou 57% do total.
Matjaz Cokan, vice-presidente de recursos humanos para a América Latina da Hisense, que fabrica televisores em Manaus, afirma: “Precisamos desses profissionais para ajudar na transferência de tecnologia nas nossas fábricas”. A empresa planeja ampliar seus investimentos até 2027.
Tian Bin, dono de uma consultoria que ajuda empresas chinesas, acredita que o número de projetos no Brasil vai crescer nos próximos dois anos, com a chegada de empresas nos setores de celular, carros elétricos e tecnologia.
Ele afirma que ajudou na abertura de 50 empresas chinesas no Brasil em 2024 e calcula que existam cerca de 500 empresas chinesas oficialmente registradas aqui, enquanto no México são 3.000.
No México, durante o governo Trump, houve um movimento parecido, com muitas empresas chinesas instaladas para acessar o mercado americano.
No Brasil, os estados de São Paulo e Bahia foram os que mais receberam trabalhadores chineses em 2024, com mais de 3.000 e 2.500 respectivamente, impulsionados por investimentos em montadoras de automóveis.
A montadora BYD inaugurou uma fábrica em Camaçari em junho. No ano anterior, houve denúncias de trabalhadores chineses em condições semelhantes à escravidão nas obras da fábrica.
Esses trabalhadores temporários eram empregados de uma empresa terceirizada da BYD. A montadora afirmou que não tolera violações da lei e encerrou o contrato com a empresa responsável.
O Ministério Público do Trabalho processou a BYD e as empresas terceirizadas por suspeita de trabalho escravo e tráfico de pessoas.
A BYD declarou que está colaborando com as investigações e dará seu posicionamento oficial nos processos.