A realização da COP30 em Belém, Pará, em novembro de 2025, coloca o Brasil no centro das discussões globais sobre mudança climática. Faltando pouco tempo para o evento, figuras importantes da política, ciência e sociedade civil já ressaltam a necessidade de um protagonismo brasileiro que vá além das negociações diplomáticas e se traduza em ações reais, com a Amazônia ocupando um papel central nas decisões, e não sendo apenas o local do evento.
Um debate organizado pelo Metrópoles e Ponto de Mudança no dia 26 de junho reuniu figuras-chave da agenda ambiental nacional. Entre os participantes estavam Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, Ana Toni, CEO da COP30 e secretária nacional de Mudança do Clima, além do climatologista Carlos Nobre, membro do Painel Científico para a Amazônia, e outros especialistas do setor público e privado.
O grupo focou em estratégias para o Brasil chegar à COP30 com propostas robustas e uma liderança efetiva na pauta climática mundial.
Voz ativa para a Amazônia
Sônia Guajajara enfatizou a importância de garantir compromissos tangíveis a partir da COP30: “Estamos nos esforçando para deixar este encontro com iniciativas concretas”. Ela destacou o protagonismo dos povos indígenas na construção de propostas, citando programas como Pintar e Catu, que discutem a inclusão dessas comunidades no orçamento público.
Para Ana Toni, a conferência é uma oportunidade histórica para reposicionar o Brasil no cenário internacional, não apenas como um dever formal, mas como uma demonstração do potencial do país em prover soluções climáticas. Ela salientou a necessidade de liderar temas como financiamento climático, transição justa para uma economia ecológica e justiça social ambiental.
Do setor privado, Fabio Cruz, diretor de ESG e Risco Climático da XP Inc., destacou o valor estratégico da COP30 e espera que o Brasil consiga colocar seus interesses na mesa das negociações, com foco em combate ao desmatamento, valorização econômica da biodiversidade e fortalecimento do financiamento verde.
Camille Bemerguy, secretária-adjunta de Bioeconomia do Pará, reforçou que a Amazônia deve ir além de cenário e ser protagonista das discussões e soluções. Ela ressaltou que a floresta precisa falar por si mesma, desconstruindo a visão distante e construindo um novo pacto ambiental que reflita a realidade local.
Desafios e o Arco da Restauração
Carlos Nobre, reconhecido climatologista, alertou para o contexto urgente da Amazônia: 6,5 milhões de km² com 47 milhões de habitantes, sofrendo um desmatamento crescente, sendo 90% dele ilegal. Desde os anos 1970, cerca de 860 mil km² foram desmatados formando o ‘arco do desmatamento,’ que agora se expande para um segundo arco.
Como solução, ele mencionou o projeto Arco da Restauração, iniciado pelo BNDES na COP28 em Dubai, inspirado em estudos do Painel Científico para a Amazônia, do qual é integrante. A iniciativa pretende restaurar 24 milhões de hectares até 2050, incluindo 6 milhões até 2030.
Segundo Carlos Nobre, apesar do custo elevado, o potencial de transformação é ainda maior e o projeto já está em andamento.
A COP30, marcada para o final de 2025, representa para o Brasil muito mais do que sediar um evento climático: é a oportunidade de liderar uma nova fase global, colocando a Amazônia como pilar central do equilíbrio entre desenvolvimento sustentável e conservação ambiental.