Steven Levitsky, professor de ciência política na Universidade de Harvard e autor do livro Como as Democracias Morrem, afirmou recentemente que o Brasil teve uma resposta mais eficaz para uma tentativa de golpe de Estado do que os Estados Unidos.
Durante o seminário Democracia em Perspectiva na América Latina e no Brasil, realizado pelo Senado, ele destacou que a reação do Brasil à tentativa golpista, que segundo a Procuradoria Geral da República foi liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, foi muito mais eficaz em comparação com a resposta americana às ações autoritárias do ex-presidente Donald Trump.
Levitsky ressaltou que a Suprema Corte brasileira agiu corretamente ao defender a democracia de forma ativa, enquanto o Congresso e o Judiciário dos EUA falharam em suas responsabilidades diante do autoritarismo.
O professor expressou sentir vergonha dos Estados Unidos, pois eles estão punindo o Brasil por fazer o que os americanos deveriam ter feito diante de ataques autoritários.
Ele referiu-se também à interferência política de Donald Trump no julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal. Em resposta, os Estados Unidos impuseram tarifas sobre exportações brasileiras e adotaram sanções contra o ministro Alexandre de Moraes.
Levitsky explicou que a resposta fraca dos EUA a um presidente autoritário se deve, em parte, à falta de memória coletiva da população americana sobre autoritarismo, ao contrário de países como Brasil, Argentina, China, Coreia do Sul e Alemanha, onde essa memória existe.
Ameaças à democracia
O professor destacou que hoje as democracias correm riscos não por golpes militares, mas por líderes eleitos que atacam instituições democráticas para consolidar poder. Esses líderes populistas buscam controlar o Congresso e o Judiciário, o que pode causar crises e fragilizar as democracias.
Resiliência e desafios na América Latina
Levitsky citou líderes como Jair Bolsonaro no Brasil e Javier Milei na Argentina como exemplos desses desafios. Porém, apontou que as democracias latino-americanas têm mostrado força, apesar de um ambiente internacional menos favorável e de dificuldades internas, como crise econômica, violência e corrupção.
Ele também mencionou que a pandemia da Covid-19 agravou muitos desses problemas, aumentando o descontentamento social na região.
Desconfiança e influência das redes sociais
Outro fator que enfraquece a confiança nas instituições é a expansão das redes sociais, que contribuiu para a queda da satisfação com as democracias na América Latina, atualmente baixa entre a população.
Durante os últimos 30 anos, o número de democracias plenas na região se manteve relativamente estável, mesmo com dificuldades crescentes no cenário internacional.
Descontentamento e populismo
Levitsky explicou que descontentamentos sociais, desigualdade e ineficácia dos governos ajudam a eleger líderes populistas e autoritários. Quando governos falham em entregar serviços, a população perde confiança nos partidos políticos, gerando uma visão de que todos são iguais.
O papel dos guardiões da democracia
No passado, partidos políticos e a mídia atuavam como protetores da democracia, mas hoje os autocratas criam seus próprios partidos e usam as redes sociais para se comunicar sem intermediários, desrespeitando normas democráticas.
Como proteger a democracia
Levitsky defende que para proteger a democracia contra líderes autoritários, as instituições do Estado devem reagir fortemente. Ele citou exemplos históricos de coalizões entre esquerda e direita que combateram forças antidemocráticas na Europa.
Se as instituições falharem, a sociedade civil deve assumir o papel de defesa da democracia, lembrando constantemente os cidadãos sobre os limites que não podem ser ultrapassados.
Coletânea sobre a democracia
O seminário também lançou uma coletânea intitulada Democracia Ontem, Hoje e Sempre, que reúne quatro livros reeditados pelo Senado, abordando temas históricos e atuais sobre a democracia no Brasil e na América Latina.