JOÃO GABRIEL
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O Brasil está considerando se tornar o primeiro país a investir no Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), um projeto que pode gerar até R$ 7 bilhões caso a nação consiga zerar o desmatamento, além de receber rendimentos financeiros.
Essa ideia está sendo analisada pelo Palácio do Planalto e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode anunciar essa iniciativa durante sua viagem a Nova York, nos Estados Unidos.
Lula viajará neste domingo (21) para participar da Assembleia-Geral da ONU e terá uma agenda focada em questões ambientais. Paralelamente, ocorrerá a Semana do Clima na cidade.
Na terça-feira (23), o presidente deverá participar de um evento na ONU promovido pelo Brasil para divulgar o TFFF.
Os valores e a decisão final sobre o investimento ainda estão em avaliação, segundo fontes próximas ao assunto.
O objetivo do anúncio é incentivar outros países a fazerem aportes de recursos — o Fundo foi criado com a participação do Brasil.
Atualmente, Alemanha, Noruega e Reino Unido são os principais países que estudam seguir essa iniciativa. A China também demonstra interesse, porém de maneira menos definida.
O Fundo funciona como um investimento comum, onde os investidores — países e entidades privadas — recebem lucros a taxas normais de mercado.
Parte dos ganhos é destinada a países com florestas tropicais, mesmo que não tenham investido diretamente, desde que cumpram regras de preservação ambiental.
Os retornos consideram fatores como extensão da cobertura vegetal, índices de desmatamento e degradação florestal.
De acordo com cálculos iniciais do governo Lula, controlando incêndios florestais e zerando o desmatamento, o Brasil poderia obter cerca de R$ 7 bilhões, devido à sua vasta presença de biomas como a Amazônia e a Mata Atlântica.
Para que o Fundo comece a funcionar, é necessário alcançar compromissos de investimento de até US$ 25 bilhões (equivalente a R$ 132 bilhões) vindos de países ou entidades filantrópicas.
O Brasil estima que, até a COP30, que é a conferência da ONU sobre clima em novembro, essa quantia seja alcançada ou pelo menos esteja próxima para iniciar as operações.
Esse valor inicial permitirá alavancar mais R$ 100 bilhões (US$ 530 bilhões) em recursos de mercado.
Conforme o plano do TFFF, esse montante geraria retornos a todos os investidores e ainda US$ 4 (cerca de R$ 21) para cada hectare de floresta tropical mundial.
Se o Brasil apostar recursos no fundo, receberá ganhos financeiros e por conservar suas florestas.
Quando os países comprometerem os investimentos, o Fundo precisará criar sua administração, que provavelmente será feita em parceria com o Banco Mundial, para garantir transparência e segurança.
Participarão desse grupo as nações com florestas tropicais e os apoiadores do projeto.
Depois, será formada uma segunda entidade jurídica para operar o Fundo financeiramente, atuando de forma integrada à primeira.
A localização dessa estrutura não está definida, mas o ideal é um país com credibilidade e condições tarifárias favoráveis.
Essa equipe terá um CEO, conselho gestor e contratará as empresas responsáveis pelos investimentos no mercado.
O investimento planejado é de longo prazo, com contratos estimados em 40 anos.
Os rendimentos serão pagos anualmente, e a partir do décimo ano, os países começarão a receber parte dos recursos investidos.
Ao final do contrato, espera-se que os investidores recuperem seu capital com lucro, enquanto o Fundo se torna autossuficiente.
Para os países com florestas tropicais acessarem os recursos, terão de cumprir requisitos — atualmente, apenas 30 dos mais de 70 países elegíveis atendem a tais condições.
Esses critérios incluem manter a taxa de desmatamento abaixo de 0,5%, não alocar os recursos no orçamento geral, destinar 20% para povos indígenas e apresentar relatórios e políticas ambientais regulares.
O TFFF também aprovará a metodologia que cada país usa para medir a destruição florestal.
O descumprimento dessas regras pode desqualificar o país do Fundo ou levar à suspensão dos pagamentos.
Há medidas de segurança caso o Fundo tenha rentabilidade menor que o esperado — segundo estudos, essa chance é inferior a 4%, pois o Fundo é projetado para longo prazo.
Nesse cenário, os pagamentos pela conservação seriam suspensos primeiro, depois os repasses aos países, e por último, aos investidores privados.
Além disso, a probabilidade de o Fundo ter prejuízo é menor que 1%.
