THIAGO BETHÔNICO
FOLHAPRESS
O grande aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos deve causar mudanças no comércio internacional, que podem ajudar a reduzir as perdas que o Brasil terá com a taxa extra de 50% aplicada pelo presidente Donald Trump. Alguns setores podem até se beneficiar quando são considerados os efeitos indiretos dessas mudanças.
Essa é a conclusão de um estudo divulgado nesta quinta-feira (7) por pesquisadores do Cedeplar (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
O estudo analisou não apenas o impacto imediato do aumento das tarifas dos EUA sobre as exportações brasileiras, mas também os efeitos das tarifas aplicadas a outros países e as retaliações, que podem mudar a competitividade do Brasil no mercado global. Isso pode favorecer os produtos brasileiros ao direcionar parte do comércio mundial para outros mercados.
Mesmo com possíveis ganhos, os economistas indicam que o impacto final ainda será negativo para a economia do Brasil e do mundo.
O estudo, feito por Edson Paulo Domingues, João Pedro Revoredo Pereira da Costa e Aline Souza Magalhães, considera as tarifas globais em vigor desde a última quinta-feira e os acordos comerciais já firmados entre EUA, União Europeia e Reino Unido.
Até agora, a China foi o único país que retaliou os EUA, aplicando tarifas de 10% sobre importações americanas.
“As taxas aplicadas sobre importações de outros países nos EUA e a retaliação da China podem trazer benefícios para o Brasil em mercados específicos, causando efeitos positivos”, explicam os autores.
Os pesquisadores utilizaram modelos econômicos para prever o impacto médio, ao longo de dois anos, das medidas tarifárias no mundo.
Desde fevereiro de 2025, eles vêm avaliando os efeitos dessas tarifas para o Brasil. Os resultados mais recentes indicam que o impacto negativo pode ser menor do que o esperado.
Segundo o estudo, o choque tarifário pode causar uma redução de 0,14% no PIB global, que corresponde a US$ 112 bilhões. O comércio mundial também deve diminuir em 3% (US$ 645 bilhões).
Os EUA teriam uma queda de 0,43% no PIB e a China uma perda de 0,14%. Para o Brasil, a estimativa é de uma redução de 0,10% no PIB, equivalente a US$ 12 bilhões. Nas exportações brasileiras, a perda líquida seria de US$ 4,2 bilhões.
Esses números consideram os impactos diretos e indiretos do aumento das tarifas. No caso das exportações do Brasil, a perda seria de US$ 8,8 bilhões, mas as mudanças no comércio mundial devem trazer um ganho de US$ 4,6 bilhões ao país.
“Em resumo, apesar dos benefícios para alguns setores do Brasil, o saldo final é negativo devido à restrição do acesso ao mercado dos Estados Unidos”, afirmam os pesquisadores.
A soja é um dos setores que pode lucrar, com um ganho estimado de US$ 1,5 bilhão, devido à retaliação da China às tarifas dos EUA, que pode abrir mais espaço para o mercado brasileiro no país asiático.
Também devem ganhar os setores de derivados de petróleo e carvão (US$ 626 milhões), papel e edição (US$ 523 milhões), equipamentos de transporte (US$ 706 milhões), veículos e peças (US$ 303 milhões) e computadores e produtos eletrônicos (US$ 238 milhões).
Por outro lado, os setores de metais ferrosos, químicos, madeira e minerais devem enfrentar as maiores perdas.
O estudo também avalia o impacto no consumo das famílias, investimentos e emprego no Brasil, que devem cair, respectivamente, 0,26%, 0,15% e 0,08%, considerando os efeitos diretos e as compensações dos ajustes no comércio global.
“No que diz respeito ao mercado de trabalho, estima-se que serão perdidos 188.707 empregos devido às tarifas dos EUA sobre o Brasil, e o impacto total deve chegar a 57 mil empregos perdidos”, destacam os autores.

