O governo brasileiro avalia que a melhora nas relações comerciais entre Pequim e Washington ainda não muda a posição do Brasil no mercado chinês de soja, mas já acende um alerta para 2026.
Esse novo acordo entre os dois países pode alterar o equilíbrio mundial da oferta e causar queda nos preços internacionais, especialmente num momento em que já há excesso de soja no mercado.
Nos últimos meses, o Brasil exportou 21,2 milhões de toneladas de soja para a China entre maio e outubro, um aumento de 37,5% em comparação com o mesmo período de 2024.
O Brasil continua sendo o principal fornecedor de soja para a China, com entregas concentradas nos portos de Santos e Paranaguá, e mantém vantagem em preço e qualidade em relação aos Estados Unidos.
O acordo entre China e EUA, firmado após uma reunião entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping em outubro na Coreia do Sul, prevê compras graduais de até 25 milhões de toneladas de soja americana por ano, mas é considerado pelo Itamaraty um gesto político sem aplicação imediata.
As tarifas sobre os produtos dos Estados Unidos permanecem, e as compras previstas de 12 milhões de toneladas até o final do ano são vistas como um sinal de reaproximação diplomática, não como reabertura completa do mercado.
Para os negociadores brasileiros, o verdadeiro risco está no excesso mundial de soja, não em uma substituição direta das exportações.
Há uma avaliação de que a oferta global está acima da demanda e, com o aumento da produção de soja processada nos EUA, devido a políticas de biocombustíveis, combinado com essa aproximação com Pequim, isso pode pressionar os preços e reduzir as margens brasileiras.
No entanto, o Brasil mantém algumas vantagens competitivas importantes: custos de produção em grande escala, soja de qualidade superior com teores mais altos de óleo e proteína, e um calendário de safra que complementa o americano.
A estrutura de compra das esmagadoras chinesas também favorece o Brasil, já que os contratos são divididos em duas etapas ao longo do ano, evitando problemas logísticos.
O Itamaraty entende que Pequim continua cautelosa com Washington e tende a preservar uma relação equilibrada com o Brasil, que se firmou como fornecedor confiável durante as tensões comerciais recentes.
A soja brasileira é essencial para a cadeia de ração e proteína animal na China, que busca diversificar seus fornecedores sem perder a confiabilidade logística.
Por trás das cenas, diplomatas brasileiros apontam que o desafio nacional é transformar a soja em produtos industrializados, especialmente combustíveis.
A recomendação é avançar na industrialização, aumentando o processamento de farelo, óleo e biodiesel, para que o setor brasileiro suporte melhor o impacto do excesso global de soja e mantenha sua rentabilidade.
O foco agora não é aumentar a produção, mas agregar valor e garantir estabilidade num cenário de crescente competição entre as duas maiores economias do mundo.

