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quinta-feira, 23/10/2025

Brasil enfrenta aumento de infecções resistentes a antibióticos

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CLÁUDIA COLLUCCI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O Brasil está enfrentando um crescimento preocupante de bactérias resistentes a medicamentos, principalmente aquelas que causam infecções urinárias e respiratórias.

O país enfrenta dificuldades como falta de laboratórios adequados, cobertura limitada para monitoramento e dificuldades no acesso a testes confiáveis e aos antibióticos mais indicados.

Essas informações foram apresentadas em um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), discutido recentemente em um encontro global de saúde em Berlim.

O relatório mostra dados de um programa que acompanha a resistência das bactérias e o uso de antibióticos em 104 países, com informações de 23 milhões de infecções entre 2016 e 2023.

No Brasil, as bactérias que causam infecções urinárias, como Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae, estão cada vez mais resistentes a antibióticos comuns, com resistência acima de 50%. Em comparação, no Chile esse índice é menor que 30%, apontando para um controle melhor.

Nas infecções gastrointestinais, o Brasil apresenta resistência significativa das bactérias Shigella e Salmonella, especialmente ao antibiótico ciprofloxacina, com índices entre 30% e 50%.

Para as infecções no sangue, há uma alta resistência de bactérias como Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter, além de presença da bactéria Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA).

Nas infecções urogenitais, como a gonorreia, o Brasil enfrenta resistência quase total à ciprofloxacina e está observando casos de resistência a outro antibiótico chamado ceftriaxona.

Segundo a OMS, uma em cada seis infecções bacterianas confirmadas no mundo apresenta resistência a tratamentos, com um aumento de aproximadamente 40% desde o início do monitoramento.

A enfermeira epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo, que representou o Ministério da Saúde na discussão do relatório, informou que o país fará um estudo nacional para entender os motivos desse aumento, analisando águas e amostras hospitalares.

Ethel Maciel destaca a necessidade de melhorar a vigilância e o diagnóstico das infecções. Muitas vezes, o tratamento é iniciado sem um exame confirmando qual bactéria está causando a infecção, levando ao uso inadequado de antibióticos.

Ela também aponta que o uso excessivo e inadequado de antibióticos durante a pandemia de Covid-19 e na criação de animais pode estar contribuindo para esse problema.

O problema de bactérias resistentes a antibióticos poderosos é anterior à pandemia, mas piorou com o aumento de pacientes graves e o uso indiscriminado de medicamentos.

Um avanço é que o número de hospitais no Brasil que enviam dados para o programa da OMS aumentou de três para 25, embora haja ainda subnotificação, especialmente na região Norte do país.

O relatório da OMS alerta que a vigilância no Brasil é limitada principalmente a hospitais grandes, o que pode não representar todo o país.

Carlos Kiffer, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo, reforça que, apesar do esforço da Anvisa e do Ministério da Saúde, ainda faltam recursos e coordenação adequada para o monitoramento das infecções resistentes.

Ele destaca que muitos hospitais não integram a rede que monitora essas infecções, e que não existe um sistema unificado para notificação dos dados de laboratórios, públicos ou privados.

Carlos Kiffer também enfatiza o uso excessivo de alguns antibióticos em detrimento de outros e o acesso desigual a esses medicamentos no país, mesmo pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Uma das recomendações da OMS é que o Brasil aumente o uso dos antibióticos de primeira linha para pelo menos 70% até 2030 e reduza o uso dos antibióticos de amplo espectro.

O documento também destaca a importância de ampliar a vigilância, investir em diagnósticos laboratoriais e fortalecer as políticas para o uso racional de antibióticos.

O controle inadequado das infecções hospitalares leva a mortes que poderiam ser evitadas e aumenta o tempo e os custos das internações hospitalares.

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