O jornal norte-americano The New York Times publicou, nesta sexta-feira (12/9), um artigo de opinião destacando que o Brasil conseguiu avançar onde os Estados Unidos não obtiveram êxito. A análise veio após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e 3 meses de prisão, por liderar uma tentativa de golpe para permanecer no poder após a derrota nas eleições de 2022.
“Esses fatos contrastam muito com os Estados Unidos, onde o presidente Trump, que também tentou invalidar uma eleição, não foi preso, mas retornou à Casa Branca”, escreveram os autores do artigo, Steven Levitsky, professor em Harvard, e Filipe Campante, professor na Universidade Johns Hopkins.
Condenação
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou na quinta-feira (11/9) o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão, por seu papel na trama golpista que objetivava manter-se no poder após as eleições de 2022. O julgamento terminou com o placar de 4 a 1: os ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin votaram pela condenação, enquanto Luiz Fux foi pelo voto de absolvição.
As defesas de Bolsonaro e de seus sete aliados, também condenados, podem apresentar recursos, porém a maioria deles tem limitações e dificilmente reverterá a decisão da Primeira Turma. O próximo passo será a publicação do acórdão, que formaliza a decisão do tribunal.
No artigo, os autores comparam a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro com a do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmando que Trump “não apenas criticou o esforço brasileiro para proteger a democracia, como também tomou medidas punitivas”.
O texto faz referência à decisão de Trump de impor uma tarifa de 50% na maioria das exportações brasileiras, além de aplicar sanções contra ministros do STF.
“De modo geral, o governo Trump usou tarifas e sanções para pressionar os brasileiros a comprometer o sistema judicial e, por consequência, sua democracia”, destacaram os autores.
O jornal observa que o governo dos Estados Unidos está penalizando os brasileiros por tomar atitudes que os americanos deveriam ter tomado, mas não tomaram: responsabilizar um ex-presidente por tentar invalidar o resultado de uma eleição.
Em 2024, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos apresentou acusações contra Trump por seus esforços em anular a eleição de 2020. “Trump quebrou a regra fundamental da democracia ao recusar aceitar a derrota na eleição e tentar invalidar a votação, numa campanha que resultou na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021″, afirmou o jornal.
O artigo também ressalta que Bolsonaro “se inspirou fortemente nas estratégias de Trump“.
Ao final, os autores ressaltam que a democracia brasileira está hoje em melhor estado do que a americana. Eles destacam que, cientes de seu histórico autoritário, as autoridades judiciais e políticas do Brasil têm protegido a democracia com firmeza, não a considerando garantida.