O Brasil registrou uma melhora significativa em sua colocação no índice anual de liberdade de imprensa divulgado pela ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras (RSF), com sede em Paris, nesta terça-feira (9/12). Contudo, a RSF alerta para um cenário global preocupante para os profissionais do jornalismo no último ano, evidenciado pelo aumento nos assassinatos, detenções e desaparecimentos de jornalistas em 2025, agravado por conflitos armados e a atuação do crime organizado.
De acordo com a organização, o progresso do Brasil reflete a normalização dos vínculos entre as instituições governamentais e a mídia desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contrastando com o período anterior, caracterizado pela hostilidade constante do governo de Jair Bolsonaro em relação à imprensa.
Apesar desse avanço, problemas persistem, como a violência sistemática contra jornalistas, a concentração da mídia em mãos privadas e a influência da desinformação, que continua a contaminar o debate público no país, conforme o relatório da RSF.
O documento destaca que, na última década, pelo menos 30 jornalistas foram assassinados no Brasil. Em 2022, três desses homicídios estavam diretamente ligados à atividade jornalística, incluindo o caso do britânico Dom Phillips, morto na Amazônia durante investigações sobre crimes ambientais em terras indígenas.
Contexto global preocupante
A China ocupa a antepenúltima posição no ranking, atrás apenas da Coreia do Norte e da Eritreia, sendo considerada a “maior prisão aberta de jornalistas do mundo”, com 121 profissionais detidos, parte dos 503 prisioneiros jornalísticos contabilizados mundialmente.
Em escala global, Israel é responsável por mais de 43% dos assassinatos de jornalistas na Faixa de Gaza. Desde dezembro de 2024, 67 jornalistas foram mortos, quase 80% por forças armadas ou grupos ligados ao crime organizado.
Na América Latina, o México se destaca como o país mais perigoso para jornalistas, com nove mortes registradas em 2025.
Os países considerados mais seguros para o exercício do jornalismo segundo a RSF são Noruega, Estônia e Holanda.
Jornalistas sob ataque
A RSF lamenta o aumento no número de jornalistas mortos, atribuindo a alta às ações criminosas de forças armadas e organizações ilegais. Até o momento, 503 jornalistas estão detidos em 47 países, incluindo 121 na China, 48 na Rússia e 47 em Mianmar, além de 135 desaparecidos e 20 mantidos como reféns, sobretudo na Síria e no Iêmen.
O conflito na Faixa de Gaza intensificou as perdas de vidas entre jornalistas, com 66 mortos em 2024 e 67 em 2025. A diretora editorial da RSF, Anne Bocandé, destacou a necessidade urgente de proteção aos jornalistas, para que não sejam alvos deliberados em conflitos.
O exército israelense foi acusado de ataques intencionais contra jornalistas, incluindo a morte do correspondente da Al-Jazeera Anas al-Sharif, refutando acusações infundadas de que ele estaria disfarçado como terrorista.
A RSF também enfatiza que 2025 foi o ano mais letal para jornalistas no México em pelo menos três anos, especialmente para aqueles que investigavam política local e crime organizado.
Além do México, Ucrânia e Sudão tiveram balanços trágicos de jornalistas mortos, conforme dados da RSF.
Organizações diferentes apresentam números variados, sendo que a Unesco registra 91 jornalistas mortos globalmente em 2025.

