O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) efetuou, entre janeiro e julho deste ano, 40 retiradas em caixas eletrônicos e guichês que somaram R$ 130,8 mil, conforme relatório da Polícia Federal (PF).
Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foram formalmente acusados por coação em uma investigação que analisa uma tentativa de golpe de Estado. O documento da PF detalha não só as movimentações financeiras do ex-presidente nos últimos dois anos, como também a frequência com que ele sacava dinheiro em espécie.
De acordo com dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a PF registrou que, entre 14 de janeiro e 11 de julho, Bolsonaro realizou saques que totalizaram R$ 130,8 mil em 40 operações. Se o valor fosse dividido igualmente por transação, equivaleria a R$ 3.250 por saque. Caso o total tivesse sido sacado em uma vez por dia no período indicado, a quantia diária retiradda seria de R$ 730,34.
No início do período, foi registrado um saque único de R$ 1,9 mil. Nos dias seguintes, o padrão era duas retiradas diárias, uma de R$ 3 mil e outra de R$ 2 mil.
Embora os investigadores não tenham identificado irregularidades específicas nos saques, eles enfatizaram a ausência de informações por parte de Bolsonaro sobre repasses realizados para seu filho Eduardo e para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Entre março de 2023 e junho de 2025, a PF identificou movimentações de R$ 44,3 milhões nas contas bancárias do ex-presidente. O Coaf indicou que essas transações poderiam configurar indícios de lavagem de dinheiro e outros crimes, e encaminhou os dados para a PF.
Durante o intervalo entre março de 2023 e fevereiro de 2024, foram registrados créditos e débitos na ordem de R$ 30,6 milhões cada. A maior parte desses recursos foi utilizada para pagamento de advogados e para aplicações financeiras, sendo que mais de 60% dos créditos foram efetuados via Pix, e mais de 50% dos débitos referem-se a investimentos.
Nos meses posteriores, entre fevereiro e agosto de 2024, as movimentações chegaram a R$ 1,7 milhão em créditos e R$ 1,3 milhão em débitos. Entre agosto e dezembro do mesmo ano, os créditos somaram R$ 872 mil e os débitos R$ 1,2 milhão, principalmente ligados a operações de investimento.
Já no período de dezembro de 2024 a junho de 2025, Bolsonaro movimentou R$ 11 milhões em créditos e débitos. Nessas transações, os créditos mais expressivos foram provenientes de resgates de aplicações financeiras, totalizando R$ 9,1 milhões, e de transferências via Pix, que somaram R$ 1,3 milhão. Quanto aos débitos, as transferências foram as de maior valor, chegando a R$ 4,5 milhões.
Durante esse período, o ex-presidente realizou transferências ao seu filho Eduardo no total de R$ 2,1 milhões. Ele efetuou seis transferências fracionadas ao longo do ano, que somaram R$ 111 mil. Em 13 de maio, enviou uma quantia única de R$ 2 milhões ao filho. Em depoimento à PF, no dia 5 de junho, Bolsonaro confirmou o envio desse valor como uma forma de auxílio, negando que se tratasse de financiamento para atos ilegais.
No entanto, segundo a investigação, Bolsonaro não informou à Polícia Federal que teria realizado outros repasses a Eduardo além dos R$ 2 milhões mencionados.
Curiosamente, um dia antes de prestar depoimento, Bolsonaro transferiu a mesma quantia de R$ 2 milhões para a conta da esposa, Michelle Bolsonaro. A PF aponta ausência de justificativa para essa movimentação financeira ocorrida imediatamente antes do interrogatório.