BRUNO RIBEIRO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), informou a Jair Bolsonaro (PL) que defenderia a economia do estado em vez de apoiar a anistia para bolsonaristas, após o anúncio da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros feita por Donald Trump.
A conversa aconteceu na tarde de quinta-feira (10), em uma reunião fechada na sede do governo paulista em Brasília.
Tarcísio é considerado possível candidato à presidência no próximo ano, mas diz que pretende tentar a reeleição em São Paulo. Trump relacionou a sobretaxa às críticas feitas ao tratamento dado a Bolsonaro no Brasil, especialmente em relação ao julgamento do ex-presidente no STF sobre a tentativa de golpe em 2022.
Durante a reunião, Bolsonaro ouviu em silêncio a posição de Tarcísio e não manifestou oposição.
Uma pessoa próxima ao ex-presidente relatou que ele saiu contrariado, mas no mesmo dia, em comunicado nas redes sociais, Bolsonaro não comentou diretamente sobre a sobretaxa e pediu rapidez aos Poderes para atender exigências de Trump que o beneficiariam no julgamento.
Donald Trump é aliado de Bolsonaro e padrinho político de Tarcísio, que é admirador do presidente dos EUA e foi fotografado com um boné do republicano após as eleições americanas. Isso tem sido usado por aliados do Palácio do Planalto durante a crise.
O impacto econômico da sobretaxa, estimado em bilhões de reais, expôs divergências dentro do bolsonarismo e colocou Tarcísio em confronto direto com o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Eduardo Bolsonaro apoia a sobretaxa e espera que ela seja usada para pressionar o Congresso a aprovar a anistia para pessoas ligadas à tentativa de golpe, incluindo o próprio Bolsonaro. O senador Flávio Bolsonaro também defende a anistia para resolver a questão da tarifa.
Eduardo está nos Estados Unidos, prometendo articular sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e tem elogiado a sobretaxa de Trump. Por outro lado, Tarcísio afirmou, em entrevista recente, que as tarifas prejudicam a economia paulista e que é importante separar a política do problema para encontrar uma solução.
Ambos são possíveis indicados de Bolsonaro para a presidência em 2026, já que o ex-presidente está inelegível até 2030. Tarcísio conta com apoio dos líderes da centro-direita, enquanto Eduardo é preferido pelos bolsonaristas mais radicais.
A reunião entre Tarcísio e Bolsonaro foi feita menos de 24 horas após o anúncio das sanções do presidente americano.
No dia da reunião, os dois publicaram um vídeo em suas redes sociais mostrando-os chegando juntos a um restaurante em Brasília, cumprimentando apoiadores e sorrindo.
Na reunião, Bolsonaro demonstrou satisfação com o apoio do presidente dos EUA, mas reconheceu que a sobretaxa atinge empresários que o apoiam, especialmente no setor agropecuário, o que pode afetar sua popularidade.
Tarcísio comunicou pessoalmente sua decisão a Bolsonaro depois de pressões de empresários, do setor agrícola e de aliados, que avaliaram que um projeto de anistia não teria sucesso diante das ameaças feitas por Trump à soberania nacional.
Depois disso, o governador iniciou ações para enfrentar as medidas americanas, incluindo contato com a representação dos EUA em Brasília para apresentar dados sobre comércio entre São Paulo e os EUA, e ligações a ministros do STF para tentar recuperar o passaporte de Bolsonaro, o que foi visto como estranho por membros da corte.
Após essas ações, os dois conversaram novamente, e o Palácio dos Bandeirantes interpretou isso como sinal de que Bolsonaro não desaprovou os movimentos de seu aliado.
Este não é o primeiro desentendimento entre padrinho e afilhado. Um exemplo anterior foi a divergência sobre o apoio à reeleição do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB). Bolsonaro considerava Nunes uma escolha ruim, mas Tarcísio insistiu e acabou tendo razão, pois o prefeito foi reeleito.
O vereador Carlos Bolsonaro (PL), outro filho do ex-presidente e responsável pelas redes sociais dele, elogiou publicamente Tarcísio pela articulação direta com os Estados Unidos, em oposição ao irmão Eduardo.
As ações de Tarcísio representam uma rápida mudança de estratégia diante da crise.
Quando Trump pediu aos brasileiros para deixarem Bolsonaro em paz, na última segunda-feira (7), Tarcísio elogiou o gesto e provocou a Justiça, afirmando que Bolsonaro só deveria ser julgado pelo povo durante eleições.
Inicialmente, a expectativa era que as sanções de Eduardo atingissem apenas o ministro Alexandre de Moraes.
Quando a sobretaxa foi ampliada para todos os produtos brasileiros, Tarcísio culpou o presidente Lula pela medida.
No entanto, aliados de Tarcísio avaliaram que até setores tradicionalmente bolsonaristas, como a agropecuária, podem se aproximar do presidente Lula por necessidade, fortalecendo o Brasil para negociações com os EUA.
Em entrevista em Cerquilho, no interior paulista, Tarcísio afirmou que é necessário unir forças e deixar de lado a política para resolver o problema, e que discutir anistia nesse momento é questão de opinião.