MARIANNA HOLANDA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Quase três anos se passaram desde que Jair Bolsonaro (PL) recebeu 58 milhões de votos na eleição de 2022 até ser condenado a 27 anos de prisão por liderar um plano golpista.
Após a derrota, seus aliados tentaram convencê-lo a aceitar o resultado e liderar a oposição, mas ele viajou para os Estados Unidos e só voltou três meses depois, enfrentando processos judiciais e assumindo a liderança da direita.
Agora, condenado e em prisão domiciliar, Bolsonaro deixa uma direita dividida entre um grupo mais radical e outro que tenta sobreviver sob sua influência.
Já inelegível até 2030 por decisões da Justiça Eleitoral, a nova sentença pode impedir sua participação nas eleições até 2062, quando teria 107 anos. Mesmo assim, ele resiste a ceder sua liderança para manter seu capital político.
Essa indefinição faz com que pelo menos quatro governadores de direita e membros da família disputem seu legado eleitoral. O vereador do Rio, Carlos Bolsonaro (PL), chama os governadores de oportunistas, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) critica Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A condenação traz incertezas ao bolsonarismo: uma vertente pragmática busca manter alianças políticas e priorizar estratégias para derrotar o petismo em 2026.
O outro grupo rejeita acordos, defende sanções a autoridades, critica duramente o Judiciário e classifica o Brasil como uma ditadura.
Hoje liderado por Eduardo Bolsonaro nos EUA, esse grupo é mais combativo e radical que o próprio ex-presidente, discordando das avaliações dele e intensificando críticas ao STF.
Relatórios da Polícia Federal revelam mensagens que contradizem posições do ex-presidente, demonstrando diferenças internas.
Há parlamentares alinhados com Eduardo Bolsonaro chamados de “eduardistas”, que o veem como possível sucessor do pai, mesmo ele não podendo voltar ao Brasil com risco de prisão.
No Brasil, enquanto Bolsonaro e aliados tentam distanciar-se do tarifaço de Trump, Eduardo defende que o presidente americano apoia Bolsonaro e que só uma anistia mudaria a situação.
Esses fatos levaram à abertura de investigação e indiciamento de pai e filho, que foram proibidos de se comunicar, e ao afastamento político de Bolsonaro após uso de tornozeleira eletrônica em julho.
Aliados da ala fiel a Bolsonaro veem movimentos para buscar um sucessor como traição e defendem que ele deve continuar candidato até o fim.
Por outro lado, a ala pragmática próxima a Bolsonaro tenta formar uma ampla frente de direita para enfrentar o presidente Lula, sem romper com o ex-presidente. Este grupo apoia Tarcísio como principal nome.
Pressionado entre críticas radicais e a necessidade de uma postura moderada, o governador tem equilibrado a decisão entre concorrer à reeleição ou à presidência em 2026.
Uma condição para a candidatura ao Planalto é o apoio declarado de Bolsonaro, porém o seu comportamento errático causa dúvidas.
Este grupo pragmático defende pautas importantes ao bolsonarismo, como a anistia ao ex-presidente e aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, mas preferem uma proposta mais moderada que não restabeleça todos os direitos políticos dele.
Eles acreditam que aproximar o bolsonarismo do centro é a melhor estratégia eleitoral para ampliar votos e garantir sobrevivência política.
A radicalização de Bolsonaro culminou na condenação de 27 anos e três meses imposta pela corte.
Diferente dos radicais, estes pragmáticos defendem diálogo com o STF para tentar melhorar as relações e buscar possíveis acordos, embora sem clareza sobre com quem e como.
Para ambos os grupos, no entanto, há consenso de que nenhum deve romper com o ex-presidente. Eles disputam a liderança política e eleitoral sem abandonar Bolsonaro.