LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A decisão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de retomar investimentos em ações de empresas difere completamente da antiga política das chamadas campeãs nacionais, revelou à reportagem o diretor financeiro e de mercado de capitais do banco, Alexandre Abreu.
“São abordagens totalmente distintas”, afirmou ele nesta terça-feira (24).
Segundo Abreu, o novo plano não foca em setores determinados nem define previamente quais empresas receberão recursos.
Isso possibilita apoiar negócios de variados setores e portes, desde que possuam projetos aprovados nas áreas de economia verde e inovação, explicou o diretor.
“Não é descartada a possibilidade de investimentos em mais de uma empresa do mesmo segmento, algo que contrasta com a política anterior de campeãs nacionais”, acrescentou Abreu.
A instituição comunicou na segunda-feira (23) que sua subsidiária BNDESPar reiniciará, após cerca de uma década, aportes em renda variável, categoria que envolve compra de ações sem retorno garantido.
O banco planeja investir até R$ 10 bilhões em iniciativas de transição ecológica, redução de carbono e inovação.
O anúncio gerou questionamentos sobre possíveis semelhanças com o suporte dado pelo BNDES a grandes empresas em gestões anteriores do PT.
A política das chamadas campeãs nacionais envolvia aquisição de participações acionárias, algo criticado por certos economistas, que argumentavam que essas empresas poderiam crescer sem a ajuda do banco.
No novo modelo, o BNDES prevê até R$ 5 bilhões em investimentos diretos – destinados a empresas que solicitarem recursos até dezembro – e mais R$ 5 bilhões via fundo de investimentos.
Abreu explicou: “Estou comunicando previamente que estou investindo, quanto estou investindo e quais projetos são elegíveis. Todas as empresas que possuem projetos nas áreas [de economia verde e inovação] podem participar, e a escolha será feita dentro do orçamento estabelecido. Não há restrição quanto a porte ou setor”.
Ele ressaltou que os investimentos em ações demandam análise muitas vezes mais criteriosa do que avaliações de crédito tradicionais, que possuem garantias como prazos e vencimentos. “Os riscos são maiores.”
O banco irá avaliar se os projetos são compatíveis com as áreas de economia verde e inovação, se as empresas têm capacidade para executar as propostas, e qual o potencial de retorno para a instituição.
“Na maioria dos casos, o BNDES não será o único investidor, pois outros sócios ou a própria empresa também contribuirão”, destacou Abreu.
O diretor ainda destacou que essa iniciativa pode impulsionar o mercado de capitais num momento de escassez de IPOs (Oferta Pública Inicial) no Brasil.
O banco informou que os recursos para os investimentos virão da venda de participações em empresas já maduras e do recebimento de dividendos.
Em 20 de maio, o BNDES anunciou a redução da participação da BNDESPar na processadora de carnes JBS, de 20,81% para 18,18%.
Uma semana antes, Abreu mencionou que a venda de ações de empresas maduras, como a JBS, poderia ocorrer conforme a perspectiva dos preços.
No entanto, ele indicou que determinados papéis, classificados como estratégicos, como os da Petrobras e Eletrobras, não estão disponíveis para negociação.
O governo Lula (PT) defende um papel fortalecido do BNDES, com medidas de suporte a diversos setores econômicos, incluindo a indústria.
Essa posição, entretanto, enfrenta reservas de economistas que receiam o crescimento excessivo do banco e a possível reciclagem de ideias de gestões passadas do PT.
A diretoria do BNDES tem respondido às críticas, afirmando que aposta em áreas estratégicas, como inovação e transição energética, buscando apoio a setores essenciais para o desenvolvimento sustentável.