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quinta-feira, 06/11/2025




BNDES apoia pesquisa para cultivo comercial de árvores nativas

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ALEXA SALOMÃO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O BNDES iniciou o financiamento de pesquisas para o cultivo e desenvolvimento de árvores nativas importantes da Mata Atlântica e da Amazônia, como pau-brasil, jatobá, mogno e jequitibá-rosa.

O objetivo não é só reunir informações para recuperar áreas verdes degradadas — já que algumas dessas árvores estão ameaçadas de extinção — mas também desenvolver técnicas para usar essas madeiras em produtos comerciais.

Essa ciência, chamada silvicultura, estuda como manejar árvores para atender ao mercado, especialmente árvores tropicais. A iniciativa, chamada BNDES Floresta Inovação, será lançada oficialmente numa cerimônia no dia 10, juntamente a outros investimentos e seminários sobre as florestas brasileiras.

Embora outras iniciativas privadas e públicas estudem árvores nativas, nenhuma tem o alcance do projeto do BNDES, que vai analisar 30 espécies diferentes. Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES, destaca que o principal é criar um ambiente para que especialistas possam consolidar o conhecimento.

“O Brasil já tem um grande conhecimento científico na produção de eucalipto, pinus e culturas como soja e cana. Nossa ideia é fazer o mesmo com espécies nativas tropicais”, explica.

“Hoje, se alguém quiser plantar essas árvores, seja para recuperar florestas ou fabricar utensílios, já existe conhecimento, mas ele não está sistematizado nem disponível para todos.”

Os recursos, não reembolsáveis, vêm do fundo tecnológico do BNDES e totalizam R$ 24,9 milhões para cinco anos. Com as contrapartidas obrigatórias, o investimento deve chegar a R$ 30,8 milhões.

Universidades e centros de pesquisa vão realizar os estudos, com possibilidade de parcerias com empresas privadas que podem contribuir com recursos e visão de mercado.

A Embrapa vai coordenar os estudos na Amazônia, enquanto a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) lidera os trabalhos na Mata Atlântica.

Parte da pesquisa vai analisar árvores maduras em áreas específicas, chamadas polos de referência, e outra parte fará o plantio e acompanhamento do crescimento das mudas.

O projeto já conta com 20 áreas de pesquisa, sendo 6 polos de referência com árvores entre 15 e 45 anos e 14 áreas para plantio com cerca de 160 hectares.

Segundo Silvio Brienza Junior, pesquisador da Embrapa Florestas na Amazônia, os polos são laboratórios vivos para coletar dados sobre o desempenho das espécies.

A pesquisa vai explorar todo o potencial das árvores, inclusive sementes e folhas, que podem ser usadas para cosméticos, medicamentos e utensílios diversos.

Por exemplo, a semente do cumaru, conhecida como “baunilha brasileira” pelo seu aroma, é usada em culinária e na indústria de cosméticos.

De acordo com Fatima Conceição Marquez Piña-Rodrigues, professora da UFSCar e coordenadora do projeto na Mata Atlântica, o projeto pode transformar o setor florestal, criando bases para uma economia nova e sustentável ao recuperar áreas degradadas e promover o cultivo fora das reservas.

Ela destaca que o BNDES Floresta Inovação atende uma demanda antiga e foi inicialmente proposto pela Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAI) e pela Coalizão Brasil Clima Florestas Agricultura.

Esse grupo reúne mais de 400 entidades e empresas que defendem o plantio de florestas como parte da bioeconomia, e lançou em 2021 um programa de pesquisa focado na silvicultura de espécies nativas.

Patricia Daros, diretora da Vale para Soluções Baseadas na Natureza, ressalta que comunidades tradicionais preservam a floresta espontaneamente, e é necessário unir ciência e negócios para proteger esses ecossistemas.

Ela lembra que grandes empresas privadas como a Vale participam dessas pesquisas, mas que são necessárias mais iniciativas, onde o apoio do BNDES pode ser fundamental para ampliar a escala.

A Vale tem a meta voluntária de recuperar 500 mil hectares de florestas até 2030, parte da qual será alcançada com a silvicultura.

Nos últimos 15 anos, a empresa investiu mais de R$ 600 milhões em pesquisa, com o Instituto Tecnológico Vale e o ICMBio formando o consórcio Genômica da Biodiversidade Brasileira para sequenciar o DNA da flora e fauna tropical, criando um vasto banco de dados genéticos.

Além disso, apoia negócios de impacto ambiental através do Fundo Vale, que já investiu R$ 430 milhões em 146 projetos, beneficiando produtores rurais e extrativistas.

Exemplos de sucesso são entregues por iniciativas como Belterra, que recuperou 6.000 hectares com sistemas agroflorestais, e Caaporã, que aplica sistemas agrossilvopastoris.

Belterra, startup no Pará, dedica 46 hectares para produção agroflorestal, combinando culturas agrícolas com árvores nativas para reintegrar a floresta à agricultura.

O mogno plantado há seis anos já cresceu bastante, e há também jatobás e sumaúmas. Mudas de angelim-vermelho, árvore rara e imponente da Amazônia, estão prontas para plantio após doação de sementes.

Hoje, Belterra é uma empresa consolidada em sistemas agroflorestais e será destaque no evento do BNDES.

Lista das 30 espécies

Destacadas em negrito as cinco que estão em ambos os biomas.

Amazônia

  1. Andiroba – Carapa guianensis
  2. Angelim-vermelho – Dinizia excelsa
  3. Aroeira-do-sertão – Myracrodruon urundeuva
  4. Castanha-da-Amazônia – Bertholletia excelsa
  5. Copaíba – Copaifera multijuga
  6. Cumarú – Dipteryx odorata
  7. Freijó-cinza – Cordia goeldiana
  8. Guanandi – Calophyllum brasiliensis
  9. Ipê-amarelo – Handroanthus serratifolius
  10. Ipê-roxo – Handroanthus impetiginosus
  11. Jatobá – Hymenaea courbaril
  12. Louro-pardo – Cordia trichotoma
  13. Marupá – Simarouba amara
  14. Mogno – Swietenia macrophylla
  15. Morototó – Schefflera morototoni
  16. Parapará – Jacaranda copaia
  17. Paricá – Schizolobium parahyba
  18. Quaruba-verdadeira – Vochysia maxima
  19. Tatajuba – Bagassa guianensis
  20. Ucuúba – Virola surinamensis

Mata Atlântica

  1. Araucária – Araucaria angustifolia
  2. Aroeira-do-sertão – Myracrodruon urundeuva
  3. Canafístula – Peltophorum dubium
  4. Guanandi – Calophyllum brasiliensis
  5. Guaritá – Astronium graveolens
  6. Ipê-felpudo – Zeyheria tuberculosa
  7. Ipê-roxo – Handroanthus impetiginosus
  8. Jacarandá-da-bahia – Dalbergia nigra
  9. Jatobá – Hymenaea courbaril
  10. Jenipapo – Genipa americana
  11. Jequitibá-rosa – Cariniana legalis
  12. Louro-pardo – Cordia trichotoma
  13. Pau-brasil – Paubrasilia echinata
  14. Pau-marfim – Balfourodendron riedelianum
  15. Vinhático – Plathymenia reticulata




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