Desde o dia 5 de maio, o bitcoin está sujeito a um colapso vertiginoso, que também está afetando todas as outras criptomoedas
A cotação do bitcoin caiu nesta segunda-feira, 9, chegando aos US$ 30 mil, alcançando o valor mínimo dos últimos 22 meses.
Desde o dia 5 de maio, o bitcoin está sujeito a um colapso vertiginoso, que também está afetando todas as outras criptomoedas.
Comparado com as cotações máximas de US$ 69 mil alcançados no final de 2021, o valor da rainha das criptomoedas caiu mais da metade.
Bitcoin são ainda um bem-refúgio?
Mas além da queda na cotação, o que está espantando os investidores da criptomoeda é que o bitcoin não está mais se comportando como um “porto seguro” em momentos de volatilidade nas bolsas de valores.
Até recentemente, o bitcoin era considerado um ativo caracterizado por uma tendência anticíclica em relação às ações.
Quando os investidores fogem das bolsas de valores, como no atual momento de juros elevados, o “bem-refúgio” oferece uma garantia que não vai cair.
Esses tipo de ativos “porto seguro” se mantêm estáveis e, com o aumento da demanda, tendem inevitavelmente a se valorizar, pois a oferta é limitada.
O ativo “porto seguro” por antonomásia, claro, é o ouro.
É claro que esses tipos de ativos também podem ter produtos financeiros, como acontece com o ouro.
Por exemplo, não é necessário comprar ouro, mas pode se investir em ações de empresas que o estocam.
Todavia, é necessário ter um lastro. No caso do ouro, as barras do metal. E, no caso do bitcoin, não existe nenhum lastro.
Bitcoin pouco sustentável
As moedas hoje são praticamente baseadas em um mecanismo fiduciário, pois quase nenhuma têm lastro.
Ou seja, existem mais notas em circulação do que barras de ouro nos cofres públicos.
O mesmo, segundo seus investidores, deveria acontecer com o bitcoin no futuro.
Entretanto, no momento a criptomoeda tem um grande problema chamado “sustentabilidade”.
O crescimento do custo da energia, não só na Europa, e os objetivos de sustentabilidade que o mundo se propôs durante a recente Cop26 em Glasgow, colocam em risco essa criptomoeda, grande consumidora de energia.
De acordo com o índice atualizado em tempo real pela Universidade de Cambridge, para “produzir” bitcoins é necessária uma força de 142 Terawatts-hora (TWh) por ano.
Isso representa um pouco menos que o consumo de todo o Egito ou da Polônia (149 Terawatts-hora cada um), mais do que o consumo da Ucrânia e Noruega (124 TWh) ou da Suécia (123 TWh). O Brasil consome anualmente cerca de 555 TWh.
Em termos de comparação, o Google (GOGL34) precisa de sete vezes menos energia do que os bitcoins para funcionar no mundo inteiro.
Países proíbem criptoativos
Além disso, existem países que proibiram a produção de criptomoedas (a famosa mineração).
Isso justamente pelos efeitos de distorção que a mineração provoca no mercado local de energia.
A China está na vanguarda dessa guerra contra a mineração de bitcoin.
Entretanto, apesar de proibir a mineração várias vezes, ainda abriga cerca de 20% da produção mundial da criptomoeda.
O primeiro país do mundo por mineração são os Estados Unidos, seguido pelo Cazaquistão.
E o governo cazaque declarou que reforçará as medidas contra atividades não autorizadas de produção de moeda digital e imporá um imposto a todas as empresas que tenham sede no Cazaquistão.
Entretanto, para os defensores da moeda digital, o que a China ou o Cazaquistão estão fazendo é a confirmação de que quanto mais se acentuam os esforços para limitar sua circulação, mais o bitcoin se torna importante.
Pois essa limitação passa cada vez mais pela repressão financeira. E isso, em tese, alimentaria a demanda por bitcoin, que não passam pelos canais financeiros oficiais do governo.
A proibição do uso do bitcoin é também baseada na luta contra a lavagem de dinheiro.
Afinal, o bitcoin é, de todas as criptomoedas, a preferida pelos criminosos.
Os relatórios de fraudes relacionadas a criptomoedas aumentaram em média 312% ao ano desde 2016, de acordo com um relatório da Crypto Head, que usou dados da Comissão Federal do Comércio dos Estados Unidos.
Esses crimes podem incluir qualquer coisa: de hackers que invadem carteiras virtuais e roubam dinheiro até golpes diretos.
Warren Buffett contra os bitcoins
Essa queda começou poucas horas após o megainvestidor americano Warren Buffett falasse contra os bitcoins.
“Apartamentos produzem rendas, fazendas produzem alimentos. Bitcoins são inúteis. Se me oferecessem todos os bitcoins do mundo por US$ 25, eu não os aceitaria porque não sei o que fazer com eles”, declarou o “Oráculo de Omaha”, considerado o “inimigo número 1 do bitcoin.
Buffett falou durante a última conferência anual da Berkshire Hathaway, e não poupou críticas à moeda digital, considerada por ele um ativo improdutivo, incapaz de criar algo tangível.
O parceiro histórico de Buffett, Charlie Munger, não pensa assim.
“Na minha vida, tento evitar coisas que são estúpidas e más e me fazem parecer mal comparado a outra pessoa, e o bitcoin consegue fazer essas três coisas”, disse Munger, “Primeiro, é estúpido porque ainda é provável que seu valor chegue a zero. É mau porque mina o Sistema da Reserva Federal e, em terceiro lugar, faz-nos parecer tolos em comparação com o líder comunista na China que o proibiu”.
Análise técnica do bitcoin não ajuda
A análise técnica do bitcoin mostra que, depois de quebrar um importante suporte na área dos US$ 38 mil — US$ 38 mil, o valor foi empurrado fortemente para baixo, chegando ao ponto de testar os mínimos.
Agora, a manutenção desse suporte é essencial para esperar uma recuperação da mais famosa das criptomoedas.
Caso contrário, segundo os analistas técnicos o bitcoin pode cair para US$ 28,9 mil, um nível jamais visto desde junho de 2021.
Esse é o valor em torno do qual passa a linha de tendência de alta de longo prazo, e é o último baluarte defensivo da moeda criada pelo lendário Satoshi Nakamoto.
Abaixo de US$ 28,9 mil não haveria mais suportes significativos para o bitcoin, que naquele momento poderia até atingir um valor de US$ 17 mil.