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quarta-feira, 05/02/2025

Berlim: 160 mil protestam contra fim do “cordão sanitário”

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Protestos eclodiram em todo o país após partido conservador acatar votos da ultradireita em projeto anti-imigração. Polícia registrou confrontos com manifestantes.

Com as eleições federais da Alemanha a apenas algumas semanas de distância e após duas votações parlamentares controversas, milhares de pessoas protestaram em todo o país neste final de semana contra o fim do isolamento do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) no Parlamento alemão. Os manifestantes criticaram ativamente o candidato a chanceler federal alemão Friedrich Merz, da conservadora União Democrata Cristã (CDU).

Neste domingo (02/02), 160 mil pessoas protestaram em Berlim, segundo cálculo da polícia da capital alemã. Os manifestantes carregavam cartazes dizendo “faltam 5 minutos para 1933”, em uma referência ao ano em que o partido de Adolf Hitler assumiu o poder na Alemanha pela via democrática.

As manifestações também reuniram grandes multidões em Aachen, Augsburg, Braunschweig, Bremen, Colônia, Essen, Frankfurt, Hamburgo, Karlsruhe, Leipzig, Würzburg e diversas outras cidades menores.

Foto: Marc John/Bonn.digital/picture alliance

Merz e CDU criticados por derrubar “cordão sanitário” contra ultradireita
A maioria dos protestos foi direcionado ao candidato a chanceler Friedrich Merz, que apresentou uma moção e um projeto de lei anti-imigração no Bundestag esta semana. Ambos receberam apoio do partido Partido Liberal Democrático (FDP), da aliança populista de esquerda Sahra Wagenknecht (BSW) e, de forma mais notável, da ultradireitista AfD.

Diversos diretórios da AfD são classificados como “suspeitos” de extremismo pelos serviços de segurança da Alemanha. Na última quarta-feira, os três partidos aprovaram uma moção não vinculativa anti-imigração. Já na sexta-feira, uma proposta da chamada Lei do Fluxo Migratório foi derrotada por uma margem apertada.

A insistência de Merz em levar os projetos à votação, mesmo sabendo que precisaria do apoio da AfD para aprová-los, foi duramente criticada como uma violação do “cordão sanitário” alemão que existe desde a Segunda Guerra Mundial, criado para isolar a ultradireita e impedir que ela chegue ao poder e reproduza os horrores do Holocausto.

A disposição do líder da CDU em ignorar esse consenso virou o centro das manifestações deste final de semana, diferente de protestos anteriores, que focavam exclusivamente na AfD. Merz é o líder das intenções de voto para assumir o governo alemão na eleição de 23 de fevereiro. A AfD aparece em segundo.

Em Berlim, os manifestantes caminharam até a sede da CDU, onde realizaram um “mar de luzes” aos gritos de “nós somos o cordão sanitário” e “vergonha de você, CDU”.

Foto: Christian Charisius/dpa/picture alliance

Merz diz não colaborar com a AfD
Merz tem feito questão de se distanciar de qualquer possível aliança entre a CDU/CSU e a AfD.

“Eu realmente disse de forma muito clara e enfática várias vezes: Não haverá cooperação de nossa parte com a AfD”, disse Merz neste domingo, no local onde o congresso do partido acontecerá na próxima segunda-feira.

“Estamos lutando por maiorias políticas no amplo centro do nosso espectro democrático”, continuou. Quando perguntado se ele aceitaria os votos da AfD para obter uma maioria no parlamento, ou seja, formar uma coalizão após a eleição, Merz foi enfático: “Não”.

Foto: Omer Messinger/Getty Images

Manifestantes pedem que Merz “ouça a Mutti” Merkel
A ex-chanceler Angela Merkel, predecessora de Merz na liderança da CDU e que durante seus 16 anos no cargo abriu as portas para um grande fluxo de imigrantes sírios e afegãos, também esteve em destaque nas manifestações de sábado.

Merkel, conhecida por sua discrição, tomou a rara iniciativa de criticar publicamente a estratégia política de Merznesta semana, condenando qualquer cooperação com a AfD.

No sábado, na cidade de colônia, Colônia, manifestantes seguravam cartazes dizendo “Fritz, ouça a Mutti!”, usando apelidos tanto para Merz quanto para Merkel, que durante seu governo era chamada ironicamente de “Mutti” (mãezinha).

O ministro da Saúde da Alemanha, Karl Lauterbach, também participou da manifestação em frente à Catedral de Colônia.

Foto: Roth /dpa/picture alliance

AfD e apoiadores enfrentam resistência de manifestantes
Em algumas cidades menores, como Neu-Isenburg, próxima a Frankfurt, assim como Göttingen e Hildesheim, o principal alvo da ira dos manifestantes não foi a CDU, mas a AfD em si.

Perto de Frankfurt, manifestantes protestaram contra um evento de campanha da AfD no sábado, entraram em confronto com a polícia e tentaram incendiar veículos policiais.

Outro alvo foi o movimento “Querdenker” (“pensadores divergentes”), que convocou suas próprias manifestações no sábado sob o lema “Políticas contra o povo?”.

Os Querdenker são um grupo heterogêneo de cidadãos que protestam contra políticas governamentais, vacinas, a mídia, imigração e outros temas. O movimento surgiu originalmente como oposição às restrições da pandemia da covid-19.

Em Göttingen e em outras cidades, contra-manifestações foram organizadas pela Aliança contra a Direita, formada por grupos da igreja, sindicatos e organizações da sociedade civil, para se opor aos discursos programados pelos Querdenker, além de uma marcha e um cortejo de automóveis.

A polícia relatou vários confrontos entre grupos rivais. Testemunhas também afirmaram que policiais usaram cassetetes para afastar contra-manifestantes que bloqueavam o caminho da manifestação dos Querdenker.

De acordo com as autoridades, policiais foram atacados com fogos de artifício, garrafas e ovos. A polícia montada precisou ser acionada para controlar a situação.

Foto: Boris Roessler/dpa/picture alliance

Líder da CSU, partido irmão da CDU, apoia decisão de Merz
Embora os manifestantes de sábado estivessem indignados com as táticas de Merz, ele recebeu apoio da União Social-Cristã (CSU), o partido irmão da CDU na Baviera.

Markus Söder, líder da CSU, manifestou apoio público às votações parlamentares desta semana, chamando a decisão de avançar com os projetos de lei de “fundamental”.

“Ele escolheu esse caminho como candidato da CDU à chancelaria e demonstrou que está sério em relação à reversão da política de refúgio”, disse Söder, que também é primeiro-ministro da Baviera.

gq (DW, ots)

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