20.5 C
Brasília
segunda-feira, 03/11/2025




bc quer explicar melhor pagamento de corretoras na venda de cdbs

Brasília
chuva moderada
20.5 ° C
21.1 °
20.4 °
99 %
5.7kmh
75 %
seg
21 °
ter
28 °
qua
31 °
qui
28 °
sex
25 °

Em Brasília

Adriana Fernandes e Carolina Mandl
Brasília, DF, e São Paulo, SP (FolhaPress)

O Banco Central está estudando novas regras para tornar mais transparente como corretores recebem pelas vendas de títulos bancários, como os CDBs. A ideia é ajudar os investidores a entenderem melhor os custos e incentivos nesses investimentos.

O Banco Master, que recentemente enfrentou dificuldades financeiras, utilizou esses títulos para captar recursos, mas problemas recentes têm levantado preocupações sobre a clareza dessas operações e o papel dos corretores que recebem comissões para vendê-los.

Atualmente, quando um CDB é vendido, tanto a plataforma de investimento quanto o corretor recebem uma comissão do banco emissor, o que pode gerar dúvidas sobre o real motivo da venda: se é pelo benefício para o investidor ou pela comissão ao vendedor.

O Banco Central quer que os investidores saibam de forma simples quais são essas remunerações, inspirando-se nas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que trazem maior clareza sobre custos e pagamentos na venda de produtos financeiros.

Esses estudos consideram as características dos produtos bancários, os diferentes tipos de instituições e como essas informações são apresentadas aos clientes para ajudar na comparação e escolha.

Alguns no mercado sugerem que plataformas também deveriam ser responsabilizadas em caso de perdas, mas essa ideia encontra resistência no Banco Central.

Se o Banco Master passar por liquidação, pode haver até um milhão de investidores afetados, com um montante em garantias que pode chegar a cinquenta bilhões de reais, o maior valor já coberto pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Isso exigirá que os maiores bancos do país façam aportes extras nesse fundo.

Anúncios

Plataformas de investimento, conhecidas por oferecer mais opções que bancos tradicionais e facilitar o acesso a produtos financeiros, ganharam grande importância nos últimos dez anos. Porém, a atuação delas no caso do Banco Master gerou questionamentos sobre os riscos e a transparência dessas operações.

Para vender os títulos do Master, os corretores usaram principalmente dois argumentos: a alta rentabilidade oferecida e a proteção do FGC que garante até 250 mil reais por investidor, em caso de quebra do banco.

O pagamento desses CDBs chegou a 140% do CDI, muito acima da média de outros bancos médios, que oferecem cerca de 115% do CDI.

Além disso, as corretoras calculavam para os investidores quanto poderiam aplicar sem ultrapassar o limite de garantia de 250 mil reais, orientando sobre o investimento seguro.

A comissão para os corretores era também superior à média do mercado, podendo passar de 4% do valor investido ao final do prazo, contrastando com cerca de 0,5% ao ano em emissões normais, que geralmente são mais curtas e com menor custo.

Concentração

As plataformas XP e BTG são responsáveis por grande parte da distribuição dos títulos do Banco Master, com aproximadamente 30 bilhões e 6,6 bilhões de reais em ativos, respectivamente. Elas somam mais de 70% da captação garantida pelo FGC para esse banco.

Alguns participantes do mercado questionam o grande incentivo financeiro para as corretoras e o uso agressivo da garantia do FGC nas propagandas aos investidores, aspectos que podem ter levado a uma oferta mais intensa desses títulos nas plataformas.

Rafael Chaves, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas, considera que as plataformas atuaram dentro das regras, mas que a regulação deveria evoluir para que fosse dada maior atenção aos riscos de investimento.

Ele afirma: “Não é correto que o risco de um banco problemático seja eliminado da operação. Isso prejudica o sistema financeiro como um todo. O Banco Master conseguiu captar muitos recursos com risco neutralizado pelo FGC.”

Se o banco quebrar, os maiores bancos do país – Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco e Santander – deverão assumir a maior parte das perdas, pois são os maiores emissores de depósitos no mercado.

Como as corretoras XP e BTG também emitem CDBs, elas terão que arcar proporcionalmente com as perdas.

A crescente influência das plataformas na captação para bancos menores merece atenção dos reguladores, pois a decisão dessas plataformas de recomendar ou não determinados títulos pode afetar a liquidez dos bancos.

Alexandre Albuquerque, analista sênior da Moody’s Ratings, comenta: “As plataformas ajudaram a reduzir os custos e diversificar o financiamento dos bancos médios, mas a captação via terceiros é menos estável que a feita diretamente pelo banco, pois a plataforma pode interromper a distribuição dos títulos.”

Em agosto, o Banco Central já aumentou as regras do FGC para os bancos, dobrando a contribuição ao fundo para quem quer captar maiores volumes com garantia do FGC. Essa mudança entra em vigor em 1º de junho de 2026, sendo vista pelo mercado como um passo tímido.




Veja Também