VICTOR LACOMBE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Em resposta ao ataque inédito dos Estados Unidos contra suas instalações nucleares, o Irã realizou nesta segunda-feira (23) um ataque à base aérea de Al-Udeid, localizada no Qatar, que é a maior base militar americana na região do Oriente Médio.
Esta base aérea abriga aproximadamente 10 mil militares dos EUA e cerca de cem aeronaves de guerra americanas. Além disso, é utilizada pela Força Aérea do Qatar e pela RAF (Royal Air Force) do Reino Unido. As Forças Armadas dos Estados Unidos consideram Al-Udeid uma parte crucial da sua estratégia e capacidades militares na região do Oriente Médio.
Al-Udeid também serve como um posto avançado do Comando Central dos Estados Unidos, um dos onze comandos unificados que reúnem diferentes ramos das Forças Armadas americanas. O Comando Central é responsável pelas operações no Oriente Médio e é considerado um dos comandos mais importantes — especialistas militares destacam que o Comando Central monopoliza recursos que poderiam ser melhor utilizados no Comando do Indo-Pacífico em ações contra a China.
Fundada em 1996 após a Guerra do Golfo, em uma época de expansão da presença militar americana no Oriente Médio, Al-Udeid foi amplamente usada por Washington após os ataques de 11 de setembro, nas guerras no Iraque e no Afeganistão e em operações contra o Estado Islâmico na Síria.
A existência da base não foi oficialmente reconhecida pelos Estados Unidos até 2002, quando o então vice-presidente Dick Cheney fez uma visita à instalação, e sua localização exata permaneceu confidencial até 2013, quando o Pentágono divulgou detalhes sobre ela.
Mais recentemente, Al-Udeid teve papel fundamental na retirada caótica das tropas americanas do Afeganistão em 2021, em meio ao retorno do Talibã ao poder — a base foi um dos principais pontos para onde os militares americanos foram enviados antes do retorno definitivo aos Estados Unidos.
O crescimento da importância de Al-Udeid nas últimas décadas se deve não apenas às guerras iniciadas pelos EUA na região desde os anos 1990, mas também a um esforço do Qatar, que hospeda a base, para aumentar a presença militar americana em seu território.
Em 1996, o pequeno emirado, que atualmente tem cerca de 3 milhões de habitantes (sendo pouco mais de 10% qataris e o restante trabalhadores migrantes), não possuía uma Força Aérea própria e adotou como estratégia investir na expansão da base Al-Udeid para garantir proteção americana ao país.
Ao longo dos anos, conforme o Pentágono, a monarquia árabe investiu cerca de US$ 8 bilhões (equivalente a R$ 44 bilhões) na construção e ampliação da base, incluindo US$ 1,4 bilhão somente em estruturas para acomodar os militares americanos destacados na instalação. Hoje, a base opera aviões-tanque, drones, aeronaves de transporte, além de caças e bombardeiros.
Como um dos principais centros militares americanos no Oriente Médio, Al-Udeid possui defesas aéreas robustas operadas tanto pelo Qatar quanto pelos Estados Unidos — que foram responsáveis por interceptar o ataque iraniano desta segunda-feira, o qual não causou vítimas ou feridos.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esteve na base em maio deste ano durante uma viagem oficial às monarquias árabes do Golfo Pérsico que são aliadas de Washington. Recebido pelos soldados da base em um clima de celebração, Trump destacou o investimento do Qatar na base e na aquisição de equipamentos militares americanos para suas próprias Forças Armadas.