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quinta-feira, 07/08/2025

Bancos privados agem com cautela no crédito devido à Selic alta e risco de inadimplência

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JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A taxa Selic em 15% e o ritmo mais lento da economia fizeram com que os bancos diminuíssem os riscos em seus empréstimos no segundo trimestre deste ano. Focando em empréstimos garantidos e clientes de alta renda, Bradesco, Itaú e Santander evitaram o aumento da inadimplência, diferentemente da média do sistema financeiro nacional segundo o Banco Central.

Nos relatórios mais recentes, esses bancos mostraram crescimento no lucro líquido anual, que somou R$ 21,23 bilhões, além de aumento da rentabilidade.

Eduardo Rosman, analista de finanças do BTG Pactual, comenta que há incerteza sobre o desempenho da economia na segunda metade do ano. Para os bancos, existe dúvida sobre a desaceleração da carteira de crédito e possível aumento da inadimplência.

Dados do Banco Central indicam que o crédito atrasado acima de 90 dias subiu de 3,28% em março para 3,55% em junho, nível igual ao registrado em maio de 2023, o maior desde 2017. Porém, os três maiores bancos privados mantêm esse índice sob controle.

Comparado ao segundo trimestre de 2024, Bradesco, Itaú e Santander diminuíram o índice de atrasos. Em relação ao início do ano, o índice permaneceu estável para Bradesco e Itaú, enquanto Santander reduziu em 0,2 ponto percentual.

Uma mudança contábil, com a resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional, permite que bancos mantenham créditos atrasados por mais de um ano sem classificá-los como perda, o que pode influenciar o índice de inadimplência do Banco Central.

Quando o banco entende que não receberá o valor emprestado, ele o exclui do cálculo de inadimplência. Por outro lado, bancos que declaram perdas rapidamente limpam seu balanço.

A redução da inadimplência no Santander é atribuída a uma menor concessão de crédito, pois o banco foi mais cauteloso. Isso refletiu em um crescimento um pouco abaixo do esperado.

Mario Leão, CEO do Santander, ressaltou que juros altos há três anos impactam fortemente empresas endividadas que chegam a pagar 20% ou 25% ao ano. Ele destacou que o cenário aumenta os riscos para pequenas e médias empresas, além dos clientes com menor renda.

Mario Leão afirmou ainda que o banco continua atendendo clientes de baixa renda, porém com mais critério, concentrando esforços na pessoa física de alta renda.

Segundo a Genial Investimentos, essa seleção mais rigorosa deve atrasar a retomada da rentabilidade do banco, que pretende voltar a um retorno sobre patrimônio médio (ROAE) de 20%, atualmente em 16,4%.

A meta foi adiada para 2027, reconhecendo que o ambiente econômico mais restrito e o crédito mais seletivo devem atrasar a recuperação plena dos resultados, conforme os analistas da Genial.

Para lidar com essa situação difícil, a matriz do Santander separou 467 milhões de euros (R$ 3 bilhões) para possíveis perdas na sua operação no Brasil. O analista Eduardo Rosman defende que a resiliência da economia brasileira é fundamental para bancos em recuperação, como Santander e Bradesco.

Bradesco tem dado prioridade a empréstimos garantidos e mantém um planejamento de longo prazo para crescer sem riscos excessivos, segundo o CEO Marcelo Noronha.

O aumento de empréstimos durante o período de Selic baixa, na pandemia, contribuiu para o pior desempenho dos bancos em 2023, com o retorno da Selic alta e alta inadimplência entre clientes de baixa renda.

Analistas do Itaú BBA avaliam que os resultados do banco melhoram rapidamente e de forma sustentável, graças ao crescimento da carteira, gestão eficiente dos juros cobrados, e receitas com serviços e seguros.

Com maior foco na alta renda, o Itaú Unibanco enfrenta menos dificuldades e mostra mais resistência. Ele possui o maior lucro, maior retorno sobre patrimônio e a menor inadimplência entre os três grandes bancos privados.

Rafael Reis, analista do BB Investimentos, destaca o bom momento do Itaú, com lucro e rentabilidade em alta, resultado de melhorias contínuas na qualidade da carteira e maior eficiência.

O único ponto negativo é o alto investimento em tecnologia, mas o mercado acredita que isso levará à redução de custos no futuro.

Diferente do Santander e Banco do Brasil, Itaú e Bradesco não sofreram perdas pelo agronegócio. O Banco do Brasil, com maior exposição ao setor, já registrou impactos negativos neste ano e teve suas ações caindo quase 7% em abril e maio.

O resultado trimestral do Banco do Brasil, esperado para o dia 14, deve ser o pior do setor.

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