CRISTIANE GERCINA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Várias instituições financeiras no Brasil já disponibilizam o Pix com opção de pagamento parcelado, que deve ser regulado pelo Banco Central dentro deste mês. Essa regulação visa unificar o uso do serviço em todas as instituições.
Dez bancos informaram à Folha de S.Paulo que oferecem essa funcionalidade. Existem dois tipos principais: o empréstimo pessoal, onde as parcelas são debitadas diretamente da conta do cliente, e o pagamento via cartão de crédito, no qual as parcelas aparecem na fatura mensal. Ambos possuem cobrança de juros.
O Pix é o meio de pagamento mais utilizado no país e tem chamado atenção internacional. Desde sua criação, em novembro de 2020, até meio de 2025, o Pix movimentou R$ 76,2 trilhões em 176,4 bilhões de transações.
A média de valor por transação foi de R$ 1.362, com um recorde no dia 6 de junho deste ano, quando foram feitas 276,7 milhões de transações movimentando R$ 135,6 bilhões.
Especialistas indicam que as futuras regras do Banco Central podem ampliar o uso do Pix parcelado, especialmente para mais de 60 milhões de brasileiros que não têm cartão de crédito. Contudo, educadores financeiros alertam para a necessidade de cautela devido à incidência de juros.
As taxas de juros variam conforme o perfil do cliente, ficando entre 1,59% e 9,99% ao mês, podendo ser ajustadas após análise de crédito.
O parcelamento é solicitado pelo aplicativo do banco no momento do pagamento via Pix, seja por QR code, chave ou transferência, e sua aprovação depende da renda, saldo ou histórico de crédito do usuário.
De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), não será obrigatório que todas as instituições ofereçam o Pix parcelado assim que regulamentado. Algumas lançarão o serviço logo, outras poderão demorar meses.
As condições de crédito, juros e análise continuarão sob responsabilidade de cada banco, estando o Pix parcelado à disposição conforme estratégias comerciais e capacidade técnica.
Thiago Amaral, advogado especializado em meios de pagamento, alerta que o Pix parcelado é, na essência, um empréstimo bancário, e deve ser tratado com cautela e atenção.
Ele explica que o Pix parcelado não é apenas uma forma de pagamento, mas sim um produto financeiro com cobrança de juros.
No caso do parcelamento via cartão de crédito, podem haver taxas adicionais, e atraso no pagamento pode resultar em juros elevados, típicos desse meio.
Cada banco tem suas próprias regras e condições, o que pode causar confusão no consumidor, situação que a regulamentação pretende melhorar.
Cíntia Senna, educadora financeira, ressalta que o Pix parcelado é na verdade um tipo de empréstimo com juros e deve ser encarado com cuidado.
É fundamental analisar as taxas cobradas antes de optar pelo serviço, comparando com outras formas de crédito, como o cartão de crédito ou empréstimo pessoal.
Ela destaca que descontos oferecidos para pagamento à vista no Pix podem perder a vantagem se o parcelamento for feito com juros embutidos, alertando também para decisões impulsivas durante a compra.
O ideal seria que o consumidor pudesse comparar facilmente taxas entre diversas instituições, algo que ainda não está totalmente acessível.
Murilo Rabusky, diretor de negócios da Lina Open X, avalia que a chegada do Pix parcelado fortalece o Brasil como líder em pagamentos digitais e pode transformar relações entre consumidores, lojistas e instituições financeiras.
O QUE É O PIX PARCELADO?
O Pix parcelado consiste em um crédito concedido pelo banco em parcelas, permitindo que o estabelecimento receba o valor à vista. Atualmente, existem duas modalidades:
- Empréstimo pessoal com débito automático das parcelas na conta do cliente, com juros. O lojista recebe o valor integral de imediato.
- Parcelamento no cartão de crédito, onde o valor pago via Pix é à vista, mas a fatura do cartão é parcelada, inicialmente sem juros, porém podem existir taxas ou cobrança de IOF. Atrasos geram juros do cartão.
O QUE É MELHOR: PIX PARCELADO OU PAGAMENTO NO CARTÃO DE CRÉDITO?
Cíntia Senna aconselha comparar todas as opções de crédito. Empréstimos consignados geralmente apresentam as menores taxas, seguidos pelo empréstimo pessoal comum, enquanto o cheque especial e o cartão de crédito rotativo têm juros elevados, podendo ultrapassar 12% ao mês.
Ela lembra que o cartão de crédito pode ser uma opção segura se usado com disciplina, pagando as faturas em dia, processo que nem todos conseguem manter.
A regulamentação do Banco Central pode trazer maior transparência e facilitar a comparação entre as taxas dos diversos serviços.
Thiago Amaral alerta para o risco de superendividamento e enfatiza a importância de avaliar o valor total do parcelamento, pois juros podem tornar essa modalidade mais cara que o pagamento à vista com desconto.
Embora o cartão de crédito possa ser vantajoso com uso responsável, a maioria dos consumidores não realiza cálculos detalhados, reforçando a necessidade de análise minuciosa antes de contratar o Pix parcelado.
QUAIS CUIDADOS AO USAR O PIX PARCELADO?
- Reconhecer que se trata de um empréstimo com juros.
- Comparar as taxas de juros das opções de crédito disponíveis.
- Verificar se o desconto para pagamento à vista compensa diante dos juros do parcelamento.
- Evitar decisões impulsivas durante a compra.
- Comparar com outras formas de crédito, como cartão ou empréstimo pessoal.
- Se disponível, simular o crédito consignado, que oferece as menores taxas.
- Cuidado para não contratar sem entender as condições.
- Buscar educação financeira antes de aderir a qualquer parcelamento via Pix.