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quinta-feira, 11/09/2025

Bancos brasileiros preocupados com a tensão entre EUA e STF

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DIEGO FELIZ, JOANA CUNHA E JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O recente aumento do conflito entre Brasil e Estados Unidos, que causou instabilidade nos mercados nesta terça-feira (19), ocorreu após o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), alertar os bancos sobre possíveis sanções financeiras contra o ministro Alexandre de Moraes. Isso gerou preocupação no setor financeiro.

Executivos de instituições financeiras afirmaram à Folha que a situação está crítica e pode piorar, temendo que os EUA adotem medidas restritivas contra esses bancos.

Na terça-feira, os bancos brasileiros perderam juntos R$ 41,3 bilhões em valor de mercado, com quedas fortes no Banco do Brasil (6,02%) e Santander (4,87%). BTG, Bradesco e Itaú caíram mais de 3%.

Essa queda aconteceu um dia após Flávio Dino afirmar que qualquer aplicação de leis estrangeiras que trouxerem retaliações a brasileiros deve ser antes aprovada pelo Supremo.

Com a inclusão de Alexandre de Moraes na Lei Magnitsky dos EUA, há receio que bancos brasileiros com negócios nos EUA sofram retaliações caso se recusem a cumprir as restrições a ele impostas.

A Lei Magnitsky prevê o bloqueio de bens e ativos do ministro nos EUA, e bancos locais ou estrangeiros que operam em dólar deveriam aplicar as mesmas restrições, podendo afetar até contas do ministro no Brasil.

O Nubank foi um dos poucos bancos a se manifestar, dizendo ainda não ter um posicionamento oficial e que acompanhará os desdobramentos nas próximas semanas.

A CEO do Nubank no Brasil, Lívia Chanes, afirmou que a empresa cumpre as leis nacionais e internacionais e manterá o diálogo com as autoridades.

Outros bancos não quiseram comentar, considerando o tema sensível por envolver o STF e negócios internacionais. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também não se pronunciou.

Um veterano do mercado financeiro acredita que a questão é mais política do que econômica.

Um ex-presidente de banco que atua nos dois países disse que o tema é complexo desde as tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump relacionadas ao julgamento de Jair Bolsonaro, e que a fala de Flávio Dino só aumentou essa complexidade.

Departamentos jurídicos estão avaliando cuidadosamente um cenário incerto, pois há dúvidas sobre qual legislação deve prevalecer para bancos com filiais internacionais.

Outro ex-presidente de banco ressaltou que Flávio Dino parece não entender a Lei Magnitsky, que proíbe bancos nos EUA de operar com pessoas sancionadas, e que não se trata de questão jurisdicional.

ECONOMISTAS EM ACORDO

Analistas consultados apontam que os bancos privados continuarão vulneráveis enquanto a disputa entre o governo Lula e os EUA não se resolver, levando o mercado a evitar riscos.

Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, disse que bancos com operações nos EUA, como BTG, Itaú, Bradesco, Santander e Banrisul, terão que seguir a Lei Magnitsky, enfrentando fechamento de contas e cancelamentos de serviços. Os bancos avaliam se o maior impacto será nas operações internacionais ou multas internas.

Queiroz destacou que o STF pode pressionar bancos com multas para manter contas abertas sob orientação brasileira, mas o sistema Swift e operações nos EUA tornam o impacto das sanções norte-americanas mais grave.

Nos próximos dias, espera-se que o mercado mantenha aversão a risco, com ações dos bancos se ajustando ao referencial de multas, como a sofrida em 2014 pelo banco francês BNP Paribas, que pagou US$ 8,9 bilhões por violar sanções dos EUA.

Queiroz explicou que as ações devem cair até um certo ponto e acompanhar os desdobramentos futuros.

Existe dúvida sobre a extensão da queda do Banco do Brasil, que já registra queda de 17,2% no ano, afetado por balanços ruins. O banco afirmou atuar em conformidade com legislações brasileiras e internacionais.

Sendo banco com participação estatal, o Banco do Brasil pode sofrer mais com a guerra comercial, ampliando sua desvalorização na Bolsa.

João Sá, cochefe de investimentos da Arton Advisors, acredita que instituições públicas sofrerão mais pressão por causa desse cenário e que o Banco do Brasil continuará sendo mais afetado.

Eduardo Grübler, gestor da AMW, observa que investidores iniciaram venda para reduzir perdas. Para o Banco do Brasil, essa queda é mais um episódio da crise que enfrenta.

Grübler acredita que os principais riscos já estão precificados, embora sempre possam surgir novidades que afetem o mercado.

Ilan Arbetman, analista da Ativa, diz que a queda dos bancos reflete a tensão entre Brasil e EUA, criando incerteza regulatória para os bancos que precisam conciliar ordens nacionais e internacionais. Uma escalada poderia aumentar o risco de sanções.

Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, acrescenta que a pressão sobre o Pix pode aumentar as dificuldades das instituições financeiras no cenário internacional.

Ele ressaltou que o impacto de um único indivíduo nas instituições é pequeno, mas retaliações podem crescer, dificultando operações bancárias internacionais.

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