Diogo Guillen, diretor de Política Econômica do Banco Central, afirmou que os canais pelos quais a política monetária afeta a economia continuam funcionando normalmente. Ele explicou que o problema mencionado pelo presidente da instituição, Gabriel Galípolo, sobre dificuldades na transmissão da política, é algo estrutural, não algo passageiro. “Nossas projeções não indicam uma perda de força recente”, disse Guillen em evento do Jota em São Paulo.
Guillen destacou ainda que o termo “continuação da interrupção do ciclo”, usado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), é apropriado para o momento atual. Isso indica cautela para avaliar a taxa de juros atual. Depois disso, é esperado um período longo com a taxa em nível que ajuda a controlar a inflação.
Na última reunião do Copom, realizada em 30 de julho, a taxa Selic foi mantida em 15%, e a interrupção do ciclo foi sinalizada para continuar.
Com bom humor, Guillen comentou que críticas à redação da comunicação do Copom têm sido frequentes, inclusive relacionadas ao uso do português.
O diretor reforçou que o comitê segue comprometido em alinhar a inflação à meta e poderá ajustar as decisões conforme necessário.
Desaceleração na economia interna
Guillen comentou que a atividade econômica no Brasil tem desacelerado conforme previsto. Indicadores de crédito mostram essa desaceleração claramente, mas o mercado de trabalho permanece ativo, com crescimento de contratações e rendimentos.
Essa mistura de sinais mostra uma moderação na economia, em linha com o que o Copom mencionou na ata de sua última reunião.
Hiato do potencial econômico
O Banco Central projeta que a economia deve operar abaixo de seu potencial nos próximos meses, com um hiato de aproximadamente -0,8% do PIB esperado para o final de 2024.
Sobre a taxa de juros real neutra, Guillen disse que o banco não pretende fazer mudanças frequentes nessa estimativa para evitar volatilidade. O BC havia ajustado essa taxa de 4,75% para 5% no final do ano passado e, por enquanto, está mantendo esse valor.
Visão sobre a política fiscal
O diretor disse que o Banco Central trabalha com projeções fiscais alinhadas às expectativas do mercado, como as divulgadas pelo Focus e pelo Questionário Pré-Copom. Ele também reconheceu que os impactos fiscais na economia podem ser maiores do que os modelos indicam.
Cenário internacional
Guillen afirmou que o ambiente externo é desafiador e cheio de incertezas, mencionando a nova política tarifária dos Estados Unidos, que tem como alvo o Brasil, além das questões fiscais internas.
Também destacou discussões no Copom sobre como as moedas estão reagindo ao nível de juros de forma diferente do passado, afetando especialmente os países emergentes.
Fonte: Estadão Conteúdo

