BC elevou sua projeção de crescimento para 2,7% em 2022, mas prevê desaceleração para 1% no próximo ano
O Banco Central (BC) revisou para cima seu cálculo de probabilidade de estouro da meta de inflação para 2023. Segundo o Relatório Trimestral de Inflação publicado nesta quinta-feira, a chance subiu de 29% para 46%.
A meta de inflação para o ano que vem é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, um piso de 1,75% e um teto de 4,75%.
A atual projeção do BC é que o índice fique em 4,6% em 2023, contra expectativa de 4% na última edição do relatório de inflação, publicada em junho. Já o mercado tem expectativa de 5,01%.
Na avaliação do BC, a depreciação cambial, o crescimento das expectativas de inflação, crescimento do PIB mais forte do que o esperado e, principalmente, a possibilidade de retorno da tributação federal sobre combustíveis, foram os fatores para a revisão para cima das projeções de inflação.
“Especificamente para 2022, destaca-se o efeito das medidas tributárias, que foi o principal fator para a surpresa desinflacionária de -2,37 p.p. no trimestre encerrado em agosto. A elevação das projeções para 2023 resultou principalmente da hipótese de retorno da tributação federal sobre combustíveis”, aponta o relatório.
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Caso a meta não seja cumprida, a legislação prevê que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, envie uma carta ao ministro da Economia elencando as razões do estouro e quais ações a autoridade monetária vai tomar para evitar que isso aconteça novamente.
No ano passado, Campos Neto escreveu uma carta em que justificava porque a inflação tinha ficado em 10,06% em 2021, quando o centro da meta era de 3,75%.
Para este ano, o BC diminuiu a probabilidade de estouro da meta de 3,5% de “próximo de 100%” para 93%. O mercado, por meio do relatório Focus, vê a inflação em 5,88% este ano, acima do teto da meta.
A inflação vem caindo nos últimos meses principalmente por conta da queda nos preços dos combustíveis, que sofreram impacto do corte no ICMS. O IPCA-15 de setembro mostrou uma inflação em 7,96% no acumulado dos 12 meses.
Crescimento
O BC também revisou suas expectativas de crescimento. Para 2022, subiu de 1,7% para 2,7% acompanhando as revisões que o mercado também tem feito.
Segundo o Banco Central, o crescimento no segundo trimestre foi mais alto do que o esperado e a evolução dos indicadores, em conjunto com o efeito dos estímulos fiscais, como a PEC Eleitoral que injetou R$ 41,2 bilhões na economia, devem levar a um resultado no PIB maior.
“A surpresa no crescimento do segundo trimestre, os resultados iniciais do terceiro e estímulos não contemplados no Relatório de Inflação anterior – notadamente o aumento do valor do benefício do Auxílio Brasil e o arrefecimento da inflação, resultante, em grande medida, da redução de tributos sobre combustíveis, energia e serviços de comunicação – são os principais fatores para a revisão”, elencou o BC.
Segundo o relatório Focus divulgado na segunda-feira, o mercado projeta alta do PIB de 2,67%. A expectativa do Ministério da Economia é de crescimento de 2,7%.
Para 2023, o BC projetou um crescimento de 1%, o dobro da expectativa do mercado de 0,5%. No entanto, ainda é menos da metade da projeção feita pelo Ministério da Economia, que chegou a 2,5%.
O relatório aponta que para o ano que vem são esperados uma queda na demanda interna por conta da desaceleração da atividade global e os impactos da elevação na taxa básica de juros, que subiu de 2% em março de 2021 para 13,75% este ano.
“Pelo lado da oferta, indústria e serviços devem apresentar ligeiro crescimento (variações de 0,4% e 0,6%,respectivamente) enquanto a agropecuária deve avançar 7,5%. A perspectiva de alta na agropecuária, setor menos cíclico, reflete prognósticos favoráveis para a safra de grãos de 2022/2023, em especial para as culturas de soja – após quebra parcial na safra 2021/2022 – e de milho”, apontou o documento.