Nilton David, diretor de Política Monetária do Banco Central, explicou que a taxa de juros considerada neutra pelo BC é uma taxa estrutural, que não leva em conta eventos que acontecem uma única vez, como o pagamento dos precatórios no começo do governo.
Ele falou sobre isso durante um evento chamado “Global Macro Sessions”, organizado pelo UBS BB, em Washington, nos Estados Unidos.
Esse evento acontece junto com reuniões do Banco Mundial, FMI e do grupo dos 20 maiores países do mundo. De acordo com Nilton, o Brasil está próximo dessa taxa neutra.
Ele disse que a taxa de juros atual, que está em 15% ao ano, está um pouco mais alta do que o ideal para fazer a inflação voltar à meta. Isso porque nos últimos três anos aconteceram vários eventos únicos que fizeram a economia crescer mais do que o esperado, surpreendendo a todos.
O diretor também comentou que esse aperto extra na taxa Selic foi necessário para lidar com esses episódios, como os precatórios, que são dívidas judiciais acumuladas antes do mandato presidencial anterior e que foram pagas logo no começo do governo atual.
Nilton explicou que essa decisão de pagar tudo foi tomada e que causou impacto na política monetária, apesar de não ser uma situação ideal. Ele ressaltou que esse impacto foi maior e levou mais tempo para diminuir do que o esperado.
Além disso, o diretor lembrou que, globalmente, houve um aumento na poupança durante a pandemia, que também afetou o cenário econômico no Brasil.
Outro ponto mencionado foi a mudança nas regras para empresas que tinham negócios fora do país. Agora, essas empresas precisam declarar e pagar impostos anualmente, o que antes não era obrigatório, o que fez com que essas pessoas procurassem alternativas para evitar ou adiar esses pagamentos.
Um desses jeitos foi investir em títulos de longo prazo no Brasil, que oferecem alguns benefícios fiscais, o que aumentou a demanda por crédito no país.
Nilton reforçou que o Banco Central acredita que o Brasil está perto da taxa neutra, mas ainda há muitas incertezas, por isso a política monetária continua mais rígida.
Inflação e crescimento
O diretor também falou que o Banco Central entende que só será possível controlar a inflação se o crescimento econômico do país for dentro do que é considerado normal.
O Brasil cresceu mais do que o esperado nos últimos tempos, mas a expectativa é que esse crescimento maior não se repita nos próximos anos.
Além disso, as previsões de inflação indicam uma queda, embora ainda não no ritmo desejado, o que é um sinal positivo para a economia.
Estadão Conteúdo