FELIPE GUTIERREZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Banco Central está preocupado com os efeitos da guerra comercial com os Estados Unidos na economia e na inflação do Brasil, de acordo com o comunicado divulgado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) nesta quarta-feira (30), conforme análise de especialistas em política monetária.
No mesmo dia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto que impõe uma tarifa extra de 40% sobre produtos brasileiros, elevando a taxa total para 50%. A autoridade monetária decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, decisão já esperada pelo mercado.
O comunicado do comitê inicia destacando o cenário internacional: “O ambiente externo está mais difícil e incerto devido às condições econômicas e às políticas adotadas nos EUA, principalmente no que se refere às políticas comercial e fiscal e seus impactos”.
O tema é retomado posteriormente: “O comitê segue atento aos anúncios sobre a imposição de tarifas comerciais dos EUA ao Brasil, adotando postura de cautela diante desse cenário de maior incerteza”.
Apesar da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, algumas exceções importantes foram estabelecidas. “Ainda não sabemos o efeito exato do aumento das tarifas, mas sabemos que, se nada mais ocorrer, a decisão tende a reduzir a inflação, pois impacta a atividade econômica, diminuindo a demanda e, consequentemente, a pressão sobre os preços”, explica Adriana Dupita, economista para mercados emergentes da Bloomberg Economics.
Adriana Dupita acrescenta que o Banco Central terá a oportunidade de detalhar seu posicionamento sobre o impacto das tarifas em setembro, quando divulgará seu relatório de política monetária e provavelmente já terá informações sobre possíveis retaliações brasileiras.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, comenta que a decisão dos EUA pode, potencialmente, influenciar a inflação brasileira por meio de mudanças na oferta de produtos.
Produtos que ficaram fora da lista de exceções podem ser vendidos no mercado interno brasileiro, aumentando a oferta e tendendo a reduzir os preços locais.
Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, considera prudente que os membros do comitê tenham sinalizado que estão avaliando os desdobramentos das tarifas.
Ele destaca: “A preocupação maior está na possibilidade de retaliação do governo brasileiro, o que poderia aumentar a inflação e ser uma preocupação adicional para o Banco Central”.
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, observa que o comunicado tem um tom mais brando, mas reforça a necessidade de cautela diante da maior incerteza gerada pelas tarifas dos EUA.
Adriana Dupita também destaca que o Banco Central tem credibilidade para agir preventivamente, caso perceba necessidade, antes que os efeitos das tarifas fiquem evidentes nos dados econômicos.
Segundo ela, embora a inflação geral esteja acima da meta (IPCA acumulado nos últimos 12 meses é de 5,35%), o núcleo da inflação está em torno de 0,3% ao mês, o que representa aproximadamente 3,6% ao ano.
Sergio Vale enfatiza que o comunicado lista as incertezas tanto internas quanto externas de forma apropriada.
Ele ressalta que a inflação está desacelerando lentamente e projeta que, até o fim do ano, estará um pouco abaixo do nível atual.
O economista destaca que a taxa de juros nominal, que é a principal ferramenta para controlar o aumento geral dos preços, deve permanecer alta por algum tempo e que o Copom está ciente dessa realidade.