Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central (BC), enviou uma carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, justificando o descumprimento da meta de inflação, que foi estabelecida em 3% com margem de 1,5% para mais ou para menos. A lei determina que essa explicação seja enviada quando a meta é ultrapassada.
No documento, o BC reforça o compromisso em fazer a inflação, que atualmente está em 5,35%, retornar à meta. Entre os componentes do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), que mede a inflação, ocorreram variações inesperadas nos preços administrados e na alimentação em domicílio.
A alta nos preços administrados, principalmente na conta de energia elétrica residencial, foi maior que o previsto devido ao pior cenário hídrico. No entanto, essa alta foi compensada por preços mais baixos do que o esperado em alimentos consumidos em casa.
A carta também ressalta que a inflação em dezembro, janeiro e fevereiro superou as expectativas em cerca de 0,32 pontos percentuais, com aumentos significativos nos preços da gasolina, serviços, produtos industrializados alimentícios — com destaque para o café — e bens industriais, como automóveis.
Galípolo destaca que a “inflação importada” teve um impacto de 0,46 pontos percentuais no desvio da meta no último ano. A desvalorização do câmbio ao longo de 2024 ainda influenciou a inflação do segundo trimestre de 2025, afetando principalmente bens industriais e alimentos industrializados. Por outro lado, a queda nos preços do petróleo ajudou a aliviar a pressão sobre os preços dos combustíveis.
O que é IPCA
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é calculado pelo IBGE desde 1979 e é a principal medida oficial da inflação no Brasil. Esse índice é utilizado pelo Banco Central para ajustar a taxa básica de juros, a Selic.
O IPCA registra a variação mensal dos preços de uma cesta diversificada de produtos e serviços, comparando o valor atual com o do mês anterior. Ele abrange cerca de 90% da população urbana das principais regiões do país.
Entre as categorias pesquisadas estão transporte, alimentação, habitação, saúde, educação, comunicação, vestuário, e artigos para residência.
Medidas para controlar a inflação
Para retornar à meta, o BC deixou claro que continuará a ajustar os juros sempre que considerar necessário. A expectativa é que a inflação esteja dentro da faixa de tolerância até o final do primeiro trimestre de 2026.
Essa projeção depende de vários fatores, incluindo o comportamento futuro da inflação, as expectativas do mercado, o hiato do produto e os riscos econômicos.
Durante o período em que a inflação estiver acima da meta, o BC irá aprimorar a comunicação sobre os motivos do desvio, as ações adotadas e a evolução do processo de ajuste da inflação.
A meta de inflação para 2025, definida pelo Comitê Monetário Nacional (CMN), permanece em 3%, com margem de 1,5 ponto percentual, ou seja, uma variação entre 1,5% e 4,5% será considerada dentro da meta.
Se a inflação acumulada ultrapassar esse limite por seis meses consecutivos, a meta será considerada não cumprida.
Essa é a segunda vez que Galípolo precisa enviar uma carta de explicação ao ministro Haddad desde o início de seu mandato. Na última semana, durante uma audiência pública no Congresso Nacional, ele afirmou que tanto ele quanto o Comitê de Política Monetária (Copom) estão preocupados com os índices inflacionários, mas ressaltou que alterar a meta de 3% não está nos planos.